As autoridades catalãs encontraram, entre os destroços da casa onde os suspeitos do duplo atentado da semana passada, em Barcelona e Cambrils, planeavam os ataques, uma nota dirigida ao autoproclamado Estado Islâmico.
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"Em nome de Alá, o Misericordioso, o Compassivo. Breve carta aos soldados do Estado Islâmico na terra de Andalus (nome dado pelos muçulmanos ao território da Península Ibérica durante a Idade Média), para os cruzados, os pescadores, os injustos, os corruptos", lê-se num manuscrito árabe, que a polícia encontrou dentro de um livro religioso pertencente ao imã de Ripoll, Abdelbaki Es Satty, morto na explosão de Alcanar.
Segundo o jornal espanhol "La Vanguardia", que cita um documento assinado pelo juiz Fernando Andreu - que esta terça-feira mandou para a prisão dois de quatro suspeitos detidos e deixou outro em liberdade por falta de provas - a nota foi encontrada na casa de Alcanar, que explodiu um dia antes do duplo atentado na Catalunha.
Encontrados bilhetes com destino a Bruxelas
Entre os destroços da casa, onde morreu também antes do tempo Youssef Aalla - suspeito de integrar a célula radical - foram ainda encontrados documentos de Abdelbaki Es Satty e vários bilhetes de avião com destino a Bruxelas, no nome do próprio.
Também uma mota no nome de Mohamed Hichamy e um carro alugado por Houssaine Abouyaaqoub (ambos abatidos no ataque de sexta-feira em Cambrils) foram detetadas nas investigações.
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Abdelbaki Es Satty "não constituía ameaça"
Segundo conta o espanhol "El Mundo", o marroquino Abdelbaki Es Satty, cuja chegada a Ripoll coincidiu com o início do processo de radicalização dos atacantes, enfrentou uma ordem de expulsão por tráfico de droga, revogada em 2015 por um juiz que entendeu que o delito não era suficientemente grave para expulsar Es Satty do país e que o imã estava integrado e não constituía "uma ameaça real".
Plano inicial era ataque de "grande envergadura"
À semelhança do que já tinha sido veiculado pelos Mossos d'Esquadra (polícia catalã) - que encontraram 120 botijas de gás na casa de Alcanar - o juiz Fernando Andreu assegurou que os suspeitos estavam produzir, no local, artefactos explosivos, com a finalidade de "cometer uma ação terrorista de grande envergadura".
Mohammed Houli Chemlal, o único terrorista que sobreviveu à explosão em Alcanar, confirmou, esta terça-feira, que a célula terrorista preparava um ataque à Sagrada Família e outros monumentos em Barcelona.
Acontece que a explosão fora de tempo do material explosivo inviabilizou a ideia inicial, substituída por outro modus operandi já conhecido: o embate de viaturas contra multidões.
Assim, na quinta-feira à tarde, uma carrinha atropelou vários pedestres que passeavam nas Ramblas. Treze pessoas - incluindo duas portuguesas - morreram e cerca de 130 ficaram feridas, 17 em estado crítico.
Num outro ataque, já na madrugada de sexta-feira, uma viatura investiu contra as pessoas, em Cambrils, uma localidade balnear a 120 quilómetros de Barcelona. Morreu uma mulher e foram abatidos cinco membros da alegada rede.
Ambos os ataques foram reivindicados pelo autoproclamado "Estado Islâmico"
Os quatro alegados terroristas que não morreram na explosão de Alcanar nem foram abatidos pela polícia (como aconteceu com os cinco atacantes de Cambrils e o fugitivo Younes Abouyaaqoub) vão ser julgados por "pertença a uma organização terrorista, homicídios terroristas e posse de explosivos", avançou, na terça-feira, a AFP.