Depois da inauguração do navio "Bibby Stockholm", com a chegada de cerca de 15 requerentes de asilo, o Governo britânico anunciou um acordo com a Turquia para combater a migração ilegal. Enquanto isso, em Itália, 41 pessoas morreram num naufrágio ao largo da ilha de Lampedusa.
Corpo do artigo
O Executivo do Reino Unido tem-se mostrado cada vez mais empenhado em travar a onda de imigração ilegal que tem chegado ao país a partir do Canal da Mancha. Depois de, no último domingo, Downing Street ter anunciado uma parceria com a Meta, o X (antigo Twitter) e o Tik Tok para banir conteúdo que possa incentivar a entrada ilegal de migrantes, seguiram-se novas medidas. O Ministério do Interior deu ontem a conhecer um acordo com a Turquia, com o intuito de, através de "ações coordenadas", conseguir “interromper e desmantelar” gangues de contrabando. No entanto, o que causou mais polémica foi a chegada, na segunda-feira, de 15 requerentes de asilo ao navio Bibby Stockholm - uma barcaça estacionada na ilha de Portland que tem capacidade para 500 pessoas.
Apesar de várias organizações não-governamentais terem alertado que o navio era "desumano" e não passava de uma "prisão flutuante" - já que os migrantes ali alojados devem ficar lá fechados até que a sua situação no país seja regularizada -, o Governo de Rishi Sunak insiste que esta é a situação mais adequada para resolver a constante entrada de migrantes ilegais no país, uma vez que que o Estado alega não ter capacidade financeira de, alongo prazo, continuar a pagar hotéis para receber estas pessoas.
O primeiro grupo a ser alojado no polémico barco era constituído por 15 pessoas, que deverão ficar instaladas entre três a nove meses, porém, cerca de 20 migrantes, que deveriam ter dado entrada na barcaça no mesmo dia, recusaram instalar-se no local, não se sabendo para onde foram levados.
O ministro da Imigração, Robert Jenrick, alertou, contudo, que quem recusar entrar no navio poderá perder o acesso aos apoios fornecidos pelo Governo. "Se recusarem a acomodação fornecida, consideraremos a remoção do pedido de asilo e esse indivíduo terá que se defender sozinho”, esclareceu anteontem o governante, em declarações ao programa "Today" da BBC Radio 4.
Jenrick argumentou que o número 10 está a cumprir com as obrigações legais de fornecer acomodação e necessidades básicas aos requerentes de asilo, acrescentando que os respetivos locais foram oferecidos “sem escolha” e não como “menu à la carte”. O responsável pela Tutela lembrou que uma embarcação semelhante foi usada em Dorset para acolher trabalhadores de refinarias, tal como já foi empregue para receber refugiados ucranianos em Glasgow e Edimburgo. “Se foi bom para todas estas pessoas, então também é bom para os migrantes”, sublinhou, defendendo ainda o vice-presidente do Partido Conservador, Lee Anderson, após este dizer, em declarações ao jornal "Daily Express", que quem não quiser aceitar as condições oferecidas “que volte para França”.
Acordo com a Turquia
Ainda com a polémica do Bibby Stockholm a ensombrar o Executivo, devido às alegações de desrespeito pelos direitos humanos, foi ontem anunciado um acordo para combater o aumento da migração ilegal, um protocolo que estará centrado em medidas coordenadas para travar e desmantelar grupos de tráfico de pessoas.
O principal pacto do acordo consiste na criação de um novo centro operacional da Polícia Nacional turca que, com o apoio do Reino Unido, irá combater o tráfico de pessoas com a ajuda de dados fornecidos pelos serviços de informação.
“Devemos fazer tudo o que pudermos para combater os grupos criminosos de tráfico de pessoas e travar os barcos” com migrantes em situação irregular a bordo, disse a ministra do Interior britânica, Suella Braverman, num comunicado.
Além do financiamento previsto pelo acordo, o Ministério do Interior forneceu às forças turcas, incluindo a Polícia nacional e a guarda costeira, equipamento e treino.
A escolha de Ancara pode, no entanto, abrir um novo precedente para críticas ao Governo. No ano passado, a Turquia disse que travou 238 448 migrantes na fronteira oriental com o Irão. De acordo com o jornal britânico "The Guardian", que teve acesso a imagens de vídeo dos locais de detenção, foram registados vários casos de violência extrema e uso de força contra migrantes afegãos que tentavam cruzar a fronteira para entrar na Turquia, o que incluía disparar balas enquanto as pessoas fugiam, inclusive crianças, espancamentos, roubos e táticas de humilhação.
Naufrágio em Itália
Enquanto o Reino Unido acelera as medidas anti-imigração, as águas italianas continuam a ser o cemitério de milhares de pessoas que procuram melhores condições de vida. Desta vez, um naufrágio ao largo da ilha italiana de Lampedusa, no sul de Itália, tirou a vida a 41 dos 45 migrantes que partiram de Sfax, na Tunísia.
Os quatro resgatados, provenientes da Costa do Marfim e da Guiné, explicaram às autoridades que após cerca de seis horas de navegação, o barco virou devido a uma grande onda e as pessoas, entre as quais três crianças, caíram ao mar.
As autoridades estão agora a tratar dos sobreviventes, que se encontram em choque e subnutridos, ao mesmo tempo que investigam o naufrágio, já que a embarcação se encontrava sem motor de popa.
A rota marítima que encaminha os migrantes para Itália é a mais letal do Mundo. Segundo dados da Organização Internacional para as Migrações, mais de duas mil pessoas morreram ou desapareceram no Mediterrâneo só este ano.