Lukashenko disponível para organizar cimeira entre Biden e Putin para negociar paz
O presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, afirmou, esta quinta-feira, estar disponível para organizar um encontro entre os homólogos norte-americano e russo para negociar a paz na Ucrânia, nas vésperas da prevista visita de Joe Biden à Polónia.
Corpo do artigo
"Estou pronto para me encontrar com o Presidente dos Estados Unidos", disse Lukashenko, numa conversa com jornalistas estrangeiros em Minsk, citado pela agência noticiosa oficial bielorrussa Belta.
"Porquê a Polónia?", perguntou o chefe de Estado bielorrusso, que se disponibilizou para receber Biden em Minsk para "uma conversa séria" se o Presidente norte-americano "quiser, de facto, a paz na Ucrânia".
"Até [o Presidente russo, Vladimir] Putin voaria para Minsk para esta reunião trilateral: dois 'agressores' e o Presidente 'amante da paz'. Por que não?", ironizou Lukashenko, insistindo que Biden seja recebido na capital bielorrussa "para encerrar a guerra".
"Se [Biden] quiser parar a guerra, nós recebê-lo-emos (...). Temos aeroportos internacionais. O 'Air Force One' pode pousar aqui", afirmou Lukashenko, lembrando que o ex-Presidente norte-americano Bill Clinton já visitou a Bielorrússia.
"Aqui, na presença dele, nós os três, podemos sentar-nos para resolver o problema", insistiu.
No entanto, Lukashenko "lamentou" que Biden não tenha aceitado o "convite", acrescentando: "Devia aceitar o convite se realmente quer acabar com a guerra, que está prestes a completar um ano. Pelo contrário ficará na Polónia".
E insistiu: "A Polónia é a hiena da Europa e desempenha o papel mais ativo na escalada da guerra na Ucrânia. A Polónia faz ainda mais barulho do que os Estados Unidos e daí o convite para vir a Minsk. Garantimos-lhe total segurança, proteção e conforto. E, mais importante, não se arrependerá da visita".
Lukashenko manteve a ideia do convite ao longo da reunião com a imprensa estrangeira, pedindo aos jornalistas para transmitirem a Biden que, se não aceitar, "estará a dizer ao mundo que não quer a paz".
Deixou igualmente a porta aberta para ajudar o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
"Garanto que conseguirei persuadir o Presidente Putin a voar até Minsk para que possamos sentar e pensar no que pode ser feito e, talvez, se Biden quiser, convidaremos Zelensky também. (...) Os russos e eu garantiremos uma viagem segura para a Bielorrússia. Em 40 minutos está aqui. De Kiev para Minsk", disse Lukashenko.
Joe Biden estará na Polónia entre 20 e 22 de fevereiro, em vésperas do primeiro aniversário da invasão russa da Ucrânia.
No mesmo encontro, Lukashenko avisou, porém, que a Bielorrússia juntar-se-á às forças russas se o país for atacado pela Ucrânia.
"Estou pronto para lutar ao lado dos russos a partir do território da Bielorrússia apenas num caso: nem que seja apenas um soldado a vir (da Ucrânia) com uma arma para o nosso território para matar a nossa gente", sublinhou Lukashenko.
"Isto não é válido apenas para a Ucrânia, mas também para todos os outros vizinhos", acrescentou Lukashenko, frisando que se houver um ataque à Bielorrússia, "a resposta será muito cruel e a guerra tomará um rumo completamente diferente".
A Bielorrússia serve como base de retaguarda para a ofensiva russa lançada há quase um ano contra a Ucrânia. Soldados e equipamentos militares russos foram deslocados para o território bielorrusso.
Muitos analistas afirmam que o Kremlin (Presidência russa) está a pressionar Lukashenko para que o exército bielorrusso se junte à ofensiva russa na Ucrânia.
No entanto, o líder bielorrusso recusou-se a tomar esta decisão até ao momento, apesar da grande dependência política e económica de Moscovo, principalmente desde as grandes manifestações antigovernamentais em 2020.
O líder bielorrusso também anunciou que se reunirá na sexta-feira com Putin.
No final de janeiro, Putin pediu a Minsk que negociasse a criação de centros de treino militar conjuntos com a Bielorrússia.
Em meados de outubro, a Bielorrússia e a Rússia chegaram a anunciar a criação de uma força militar conjunta com uma missão puramente defensiva, segundo Minsk.
Os dois países realizam frequentemente exercícios militares de larga escala, alimentando regularmente as especulações de que o exército bielorrusso poderia participar na ofensiva na Ucrânia.
Na quarta-feira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, pediu à Bielorrússia que ponha termo à sua "cumplicidade" na invasão russa da Ucrânia.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).