O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse esta segunda-feira que o pedido de destituição analisado por uma comissão especial contra Dilma Rousseff não tem argumentos necessários para vingar.
Corpo do artigo
"Este pedido de 'impeachment' (destituição) não tem base legal, sem um crime de responsabilidade configurado nas contas de 2015, que nem foram entregues ainda, não é justificável tirá-la do cargo. Encurtar o mandato da Dilma por motivos políticos é um golpe", disse.
Um dos argumentos mais fortes do processo analisado pelos deputados contra a Presidente indica que ela teria cometido crime de responsabilidade ao aprovar o uso de manobras administrativas conhecidas como "pedaladas fiscais" (atrasos na transferência de dinheiro devido pelo governo a bancos e autarquias) para melhorar as contas do país.
Dilma Rousseff é acusada de aprovar o uso de recursos de bancos públicos para a cobertura de gastos com programas sociais, de sancionar decretos para a concessão de incentivos a órgãos do governo sem a aprovação do Congresso e de manter dívidas não contabilizadas.
O processo cita, ainda, que a Presidente teria favorecido os desvios de dinheiro da Petrobras, que estão sendo investigados pela Operação Lava Jato.
Sobre a sua polémica nomeação para o cargo de ministro da Casa Civil, suspensa pelo Supremo Tribunal Federal, Lula da Silva disse que só aceitou o cargo para espantar o "mau humor" dos brasileiros, que estão muito pessimistas graças ao fraco desempenho da economia nos últimos anos.
"O Brasil sempre foi considerado um país alegre e otimista. Aqui não havia desesperança. Agora o clima está muito ruim. Nós temos que fazer um esforço para apresentar uma proposta de mudança na economia para a população que funcione", reforçou.
Ele defendeu a adoção de políticas que implantou durante sua gestão na Presidência, citando o estímulo ao crédito como ação necessária para revitalizar a economia.
"Acho que temos que reacender o mercado interno com financiamento para os mais pobres. Se você dá 100 dólares para essas pessoas, esse dinheiro não vai para os bancos, mas se transforma em consumo de mercadorias que fomenta o comércio e as indústrias", argumentou.
Lula da Silva admitiu, porém, que alguns ajustamentos adotados no segundo mandato de Dilma Rousseff - em curso -, não foram devidamente explicados e acabaram por contrariar promessas feitas durante a campanha eleitoral, como, por exemplo, as alterações das normas laborais.
"Mexemos no seguro de desemprego e em outros direitos laborais e perdemos a aprovação de 80% da nossa base eleitoral meses depois de dizermos que não faríamos isso. Hoje a insatisfação não está só na cabeça das pessoas que não votaram na Dilma, está também nas fábricas", concluiu.