O antigo presidente brasileiro e candidato às eleições presidenciais de 2 de outubro criticou o aproveitamento político que o chefe de Estado do Brasil, Jair Bolsonaro, fez do dia do bicentenário da independência.
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Luiz Inácio Lula da Silva disse, num vídeo publicado nas redes sociais na quarta-feira, que enquanto foi chefe de Estado nunca se aproveitou politicamente do 7 de setembro, dia da independência do Brasil.
"Enquanto presidente da República tive a oportunidade, em 2006 e em 2010, em época eleitoral e em nenhum momento a gente utilizou o dia da pátria, o dia do povo brasileiro, o dia maior do nosso país por conta da independência como instrumento de política eleitoral", afirmou o candidato, líder em todas as sondagens.
Lula da Silva acusou o atual presidente de o tentar "atacar" em vez de falar dos problemas sociais e económicos que o povo brasileiro vive.
Bolsonaro "devia era estar a explicar como é que a família juntou 26 milhões de reais [cerca de cinco milhões de euros] em dinheiro vivo para comprar 51 imóveis", acrescentou.
Minutos antes, o também candidato às eleições presidenciais brasileiras Ciro Gomes tinha criticado o chefe de Estado.
"Bolsonaro transformou o 7 de Setembro dos 200 anos da independência no mais desavergonhado comício eleitoral já feito neste país", escreveu na rede social Twitter o terceiro classificado nas sondagens (9%) para as eleições de 2 de outubro.
"Houve outras transgressões políticas, institucionais e morais seríssimas. Os brasileiros cobram uma ação da justiça!", denunciou Ciro Gomes.
Brasília e o Rio de Janeiro foram palco, na quarta-feira, dos maiores desfiles do bicentenário da independência, que acabaram por se tornar na prática num comício político por parte de Jair Bolsonaro, a menos de um mês das eleições presidenciais.
Desde que Bolsonaro tomou posse, um dia que outrora pertencia a todos os brasileiros, tornou-se num feriado para demonstração da força política da direita conservadora. Também a bandeira brasileira e a camisola "canarinha" da seleção brasileira de futebol se tornaram símbolos do "bolsonarismo".
Depois do desfile cívico-militar pelas comemorações do bicentenário da independência, em Brasília, Bolsonaro cruzou a Esplanada dos Ministérios, juntamente com a sua mulher, Michelle, e dirigiu-se a um trio elétrico, um palco improvisado, para discursar perante milhares de apoiantes que o esperavam.
Não sou muito bem-educado, falo palavrões, mas não sou ladrão
"Esta é uma luta do bem contra o mal, o mal que perdurou 14 anos no nosso país", disse, referindo-se aos governos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores).
"Não voltarão", exclamou, para regalo dos milhares de apoiantes que entoaram um dos clássicos cânticos contra Lula: "Lula ladrão, seu lugar é na prisão".
Vendo a Esplanada dos Ministérios coberta de "verde e amarelo", Bolsonaro afirmou duvidar das sondagens que o colocam em segundo lugar na corrida presidencial.
Apesar do forte discurso, Bolsonaro desta vez não lançou dúvidas sobre o sistema eleitoral, nem teceu ataques a juízes, uma posição que já tinha sido antecipada por analistas citados pela imprensa local que disseram acreditar que o tom do atual presidente seria mais brando até para atenuar a sua taxa de rejeição que, a menos de um mês do seu "embate" eleitoral com Lula da Silva, se situa nos 52%.
Bolsonaro seguiu depois para o Rio de Janeiro para se juntar às concentrações e pediu votos, num discurso na praia de Copacabana durante um ato que juntou propaganda eleitoral com as comemorações do bicentenário da independência do país.
"Não sou muito bem-educado, falo palavrões, mas não sou ladrão", frisou o chefe de Estado referindo-se ao seu principal adversário na corrida presidencial.
As sondagens divulgadas no Brasil mostram que Lula da Silva lidera a corrida presidencial com mais de 44% das intenções de voto, seguido de Bolsonaro, que tem mais de 30% do apoio até ao momento.
O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, assistiu ao desfile cívico-militar do 7 de Setembro, na Esplanada dos Ministérios, mesmo no centro da tribuna, ao lado de Bolsonaro.