A candidatura do pianista e regente israelita de origem argentina Daniel Barenboim ao Prémio Nobel da Paz foi apresentada na noite de quarta-feira, na Academia Argentina de Letras, em Buenos Aires. A proposta será levada à Fundação Nobel em Setembro.
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"A candidatura deve-se não só à contribuição artística [de Barenboim] como exímio pianista, mas também à iniciativa de formar uma orquestra constituída por jovens de diferentes nacionalidades, respeitando a individualidade de cada um", explicou, durante a sessão, o director do Instituto para o Estudo da Comunicação, Informação e o Livro, Isay Klasse, subscritor da proposta, citado pela agência Efe.
Na base da iniciativa, está o projecto Orquestra West-Eastern Divan, criada em 1999 por Barenboim com o ensaísta e professor de origem palestiniana Edward Said, entretanto falecido, reunindo jovens músicos oriundos de Israel, dos territórios palestinianos ocupados e de outros países árabes, com o objectivo de promover "a convivência" e "o diálogo intercultural".
Aderiram à proposta o Nobel da Literatura 2010, Mário Vargas Llosa, o antigo presidente do Uruguai Julio María Sanguinetti, o escritor argentino Juan José Sebreli, a juíza do Supremo Tribunal da Argentina Carmen Argibay e o académico Guillermo Jaim Etcheverry, além do presidente da Academia Argentina de Letras, Pedro Luis Barcia, entre mais de 2500 adesões individuais e cerca de 180 de instituições.
"Barenboim estabeleceu uma ponte de convivência. [A orquestra] não é a solução para o Médio Oriente, mas um caminho para demonstrar que se pode combater o fanatismo e o fundamentalismo com disciplina e uma atitude positiva", disse Isay Klasse.
"Este maldito conflito não é militar, nem político", disse Daniel Barenboim durante a actuação da West-Eastern Divan em Buenos Aires, em 2010. "É um conflito humano de dois povos que estão profundamente convencidos de ter o direito de viver no mesmo pedaço de terra".
O nome da Orquestra West-Eastern Divan provém de uma colectânea de poemas do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, "West-Eastern Divan", publicada em 1819.
"A razão pela qual nomeámos assim a orquestra, advém do facto de Goethe ter sido um dos primeiros alemães a interessar-se genuinamente por outros países -- começou a aprender árabe quando tinha mais de 60 anos", disseram Barenboim e Said quando da apresentação do projecto, em 2000. "A West-Eastern Divan não é apenas um projecto musical, mas também um fórum para o diálogo e reflexão sobre o conflito israelo-palestiniano".
Em 2007, a West-Eastern Divan apresentou-se em Lisboa, no ciclo das Grandes Orquestras Mundiais da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 2004, actuou pela primeira vez num país árabe, Marrocos, e em 2005, em Ramallah, na Cisjordânia. A orquestra já se apresentou em países como Espanha, Alemanha, Reino Unido, França, Estados Unidos, Argentina, Uruguai ou Brasil.