As cidades de Nampula e da Beira despertaram num ambiente de tranquilidade após graves distúrbios na noite das eleições gerais em Moçambique, e que provocaram pelo menos dois feridos, um dos quais em estado grave.
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A polícia moçambicana envolveu-se em confrontos com a população de Nampula, norte de Moçambique, quando tentava dispersar concentrações de pessoas junto de mesas de voto para as eleições gerais.
Em vários pontos da periferia da cidade, onde reside a maioria da população, a polícia usou balas reais e gás lacrimogéneo para dispersar as pessoas que se mantinham perto das assembleias de voto, avisando-as de que não podiam permanecer no local e tinham de ir para casa
O presidente da autarquia de Nampula, Mahamudo Amurade, eleito pelo MDM (Movimento Democrático de Moçambique, oposição) estabeleceu uma relação entre a intervenção da FIR (Força de Intervenção Rápida) e o afastamento de eleitores dos postos de votação, numa alegada tentativa de fraude eleitoral.
Várias ruas foram interrompidas com barricadas de pneus em chamas ao longo de mais de três horas de distúrbios, que coincidiram com um corte de energia.
No final, as pessoas que desobedeceram à polícia acabaram por sair de livre vontade, quando já seguia a contagem dos votos, verificou a Lusa no local.
A província de Nampula, maior círculo eleitoral do país, registou também incidentes semelhantes em Angoche e Ilha de Moçambique, mas esta quinta-feira a situação mantinha-se serena, segundo habitantes contactados pela Lusa.
No bairro da Munhava, na periferia da Beira, segunda maior cidade do país, a polícia moçambicana tentou dispersar dezenas de pessoas que se concentraram junto das assembleias de voto para controlar o processo de votação e evitar uma suposta tentativa substituição de urnas de votos.
"A população protesta contra o gás lançado pela polícia. Era desnecessário, estamos só a vigiar os nossos votos", disse à Lusa um dos manifestantes. "Em todas as eleições se repete a mesma coisa", acrescentou uma outra pessoa presente no local. "Somos as únicas vítimas da polícia"
Imagens divulgadas na noite de quarta-feira mostravam barricadas em chamas, cortando um dos acessos à cidade e uma multidão gritando pelo nome do líder da oposição, Afonso Dhlakama.
Foi neste bairro que, durante o dia das eleições gerais, a polícia prendeu um homem, sem credenciais das autoridades eleitorais, que tentava introduzir urnas com boletins de voto num posto de votação.
Mais de dez milhões de moçambicanos escolheram, na quarta-feira, um novo Presidente da República, 250 deputados da Assembleia da República e 811 membros das assembleias provinciais.
No escrutínio, concorreram três candidatos presidenciais e 30 coligações e partidos políticos.