Médico, saudita e crítico do Islão: o perfil do homem que atropelou multidão num mercado de Natal
Ódio contra o Islão e contra uma Alemanha que diz protegê-lo faz parte do perfil conspiracionista do detido por atropelar mortalmente pelo menos cinco pessoas, num mercado de Natal no centro do país.
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Chama-se Taleb Al Abdulmohsen, tem 50 anos e é médico. Na sexta-feira à noite, no mercado de Natal de Magdeburgo, na Alemanha, não salvou vidas. Pelo contrário: ao volante de um carro, avançou a alta velocidade contra a multidão no local, matando pelo menos cinco pessoas (incluindo uma criança) e deixando mais de 200 feridas - o número continua em atualização.
O perfil incomum vai sendo traçado pela imprensa alemã, que avança que Taleb - investigado pelas autoridades como autor do massacre no centro do país - estaria sob o efeito de drogas quando atropelou a multidão com um SUV BMW X3. Um teste de despiste de estupefacientes utilizado pela Polícia, capaz de detetar a presença de sete substâncias (incluindo canábis, opiáceos, cocaína, MDMA e ecstasy), acusou positivo, escreve o jornal "Bild".
Apoiante da extrema-direita alemã (será simpatizante do partido AfD) e do magnata norte-americano Elon Musk, o saudita será um ex-muçulmano convertido ao ódio ao Islamismo, contra o qual vocifera nas redes sociais, espalhando mensagens críticas à sua antiga religião e considerando a Alemanha, onde chegou em 2006, cúmplice da "islamização da Europa". Também manifestava simpatia pelo partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e pelo magnata Elon Musk, dono da Tesla e da rede social X (antigo Twitter), além de aliado de Donald Trump e ele próprio apoiante da AfD.
Médico e "ativista" que apoiava refugiados
De acordo com a agência Reuters, os serviços de informação sauditas haviam alertado as autoridades alemãs sobre as motivações radicais de Taleb Al Abdulmohsen. O perfil do detido na conta do X tem uma foto de uma arma automática e um desenho da sua cara, juntamente com a seguinte descrição: “Oposição militar saudita. A Alemanha persegue mulheres sauditas requerentes de asilo, dentro e fora da Alemanha, para destruir as suas vidas. A Alemanha quer destruir a Europa.”
Apresentando-se, numa entrevista à BBC, em 2019, como "ativista" que dedicava grande parte dos seus dias a ajudar requerentes de asilo, 90% dos quais mulheres, especialmente da Arábia Saudita e da região do Golfo, Taleb declarou, nesse mesmo ano, ao jornal "Frankfurter Allgemeine Zeitung", ser "o crítico mais agressivo do Isão na História".
Na tarde do ataque, tinha gravado uma mensagem áudio em inglês, reporta o "El País", em que se apresentava e voltava a criticar a Alemanha. “Olá, o meu nome é Taleb Al Abdulmohsen, sou médico, psiquiatra, trabalho na Alemanha. Esta história começou há muito tempo, há pelo menos 2400 anos, quando os atenienses [naturais de Atenas] executaram Sócrates pelas suas críticas à religião. Hoje, os descendentes culturais dos antigos gregos são a Europa e a América do Norte. E atualmente, nestes países, a nação que persegue ativa e criminalmente os críticos do Islão para arruinar as suas vidas é a nação alemã", disse.