Sebastián, uma criança espanhola de 11 anos, dormiu dentro do McDonald's do aeroporto de Barajas, em Madrid, durante 30 dias, juntamente com a mãe, que estava grávida de gémeos.
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María, nome falso dado pela mãe por ter "vergonha" da situação em que se encontra, relatou ao jornal espanhol "El País" que, na primeira noite em que dormiram no aeroporto, a 1 de novembro de 2024, Sebastián estava feliz, apenas por se poder deitar "entre hambúrgueres". O jornal relata que há mais de 200 pessoas a dormir no terminal todos os dias.
Uma igreja onde a mulher cozinha ao domingo deu-lhes um colchão, que colocaram no chão do McDonald's para se conseguirem deitar. Todos os dias acordavam de madrugada, para se lavarem nos quartos de banho do aeroporto, e seguiam para a escola de Sebastián, onde ele consegue ir à cantina “sem pagar”. "Eles sabem da nossa situação, embora pensem que dormimos na igreja", conta María. Sebastián está no sexto ano da escola primária.
A mulher procurou assistência social depois de ter sido despejada da casa onde morava mas, de acordo com o município, não recebeu ajuda porque "não cumpriu os objetivos acordados em planos de intervenção anteriores". María perdeu o emprego e, consequentemente, a casa onde morava com o filho, pela qual pagava 550 euros mensais. A mulher já tinha pedido apoio à Segurança Social em 2013, mas foi considerada "conflituosa" pela instituição.
Desde que ficou sem casa, a 1 de novembro de 2024, María deslocou-se várias vezes aos serviços de apoio social, mas não conseguiu obter qualquer resposta.
No entanto, menos de 24 horas depois de o jornal espanhol questionar o Departamento de Políticas Sociais e Famílias da autarquia sobre a situação, a mãe e a criança foram foram colocadas num apartamento. Os responsáveis justificam que a decisão foi tomada com base no grau de "vulnerabilidade" da mãe e da criança, agravado pela gravidez de risco de María, que abortou um dos gémeos nas primeiras semanas de gestação.
María, que nasceu na Bolívia mas tem agora dupla nacionalidade, e Sebastián, como ele próprio diz, "totalmente espanhol", deverão ficar na habitação durante, pelo menos, três meses, e vivem com outras duas famílias.
Em Madrid, as famílias com problemas habitacionais podem optar por contactar o Samur Social, um serviço de emergências sociais, ou uma solução a médio prazo, através da Segurança Social, ambos coordenados pela Câmara. O Samur Social faz avaliações técnicas e atribui abrigos temporários e a Segurança Social é responsável por acompanhar e encaminhar as pessoas para organismos como a Cáritas ou a Cruz Vermelha.
O caso da família passou de organismo em organismo durante os últimos três meses e, quando questionada pelo "El País", a assistência social da Câmara não quis especificar quais são os requisitos das avaliações técnicas. Para além disso, não fornecem dados sobre o número de habitações disponíveis para famílias carenciadas, ou informação sobre o que acontece às crianças cujos pais não cumprem com as condições exigidas, como terá sido o caso de María. Assim, não é possível saber se existem mais crianças na mesma condição.

