Apesar de uma trégua oficial de 72 horas terminar ontem, o 13.º dia de confrontos entre as forças leais ao presidente de facto do Sudão, general Abdel Fatah al Durhan, e o grupo rival Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), do general Mohamed Hamdan Daglo, Cartum e outras localidades amanheceram ao som de bombardeamentos aéreos e de disparos de artilharia, que já fizeram pelo menos 512 mortos e 4200 feridos.
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Os combates, desencadeados no dia 15, centram-se especialmente em pontos vitais da capital, como o palácio presidencial e o quartel-general das Forças Armadas, e continuam a alastrar a outras localidades, como Bahari e o subúrbio de Kafouri, nos arredores de Cartum, onde estão as principais posições das RSF, bem como Omdurman e também a outras regiões, especialmente na zona Oeste de Darfur, considerada bastião das tropas de Daglo.
Os generais Durhan e Daglo comandaram o golpe que, em abril de 2019, depôs Omar al Bashir, na sequência da pressão popular nas ruas, e, em 2021, derrubaram juntos o Governo civil, suspendendo a transição democrática. Agora, enfrentam-se devido a divergências quanto à integração das RSF nas Forças Armadas.
Fugas das prisões
No meio do caos, centenas de detidos fugiram das prisões, incluindo a de Kober, onde se encontravam altos funcionários do regime de al Bashir, nomeadamente Ahmed Harun. Ambos são procurados pelo Tribunal Penal Internacional por "crimes contra a Humanidade" e "genocídio". Al Bashir e outros quadros presos tinham sido retirados, antes do início dos confrontos, para um hospital, devido a problemas de saúde.
A violência dos combates e o colapso dos sistemas de abastecimento e de saúde (só 16% das instalações funcionam, segundo a ONU) continuam a empurrar sudaneses e estrangeiros para fora do país, num êxodo contínuo que arrasta também pessoal diplomático e levando ao encerramento da maior parte das embaixadas ocidentais. A União Europeia já retirou 1600 pessoas e a China mais de 1300.
As agências e a imprensa internacionais continuam a relatar as entradas em massa nos países vizinhos. Anteontem, um navio com 1687 civis de mais de 50 nacionalidades chegou à Arábia Saudita, seis mil pessoas cruzaram a fronteira com a Etiópia e 2700 fugiram para o Chade e o Sudão do Sul e três mil para a República Centro-Africana. O Egito anunciou ter recebido mais de 16 mil estrangeiros, dos quais 14 mil sudaneses e dois mil de meia centena de nacionalidades.
Afetada assistência a 8,5 milhões de crianças
Os combates estão a "agravar rapidamente" a "já terrível" situação humanitária das crianças, com 8,5 milhões a necessitarem de assistência imediata, alertam a Unicef e as organizações World Vision e Save the Children.
A crise interrompeu os tratamentos que salvam vidas de 50 mil crianças com desnutrição aguda grave.
A cadeia de frio que mantém as vacinas viáveis tem sido afetada por cortes de energia. Milhões de crianças sub-vacinadas ou com dose zero expõem-se a doenças mortais como o sarampo e a poliomielite.