Forças Armadas incentivam, no entanto, que autoridades ouçam exigências do "Povo"
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Os comandantes da Aeronáutica, da Marinha e do Exército brasileiros divulgaram um comunicado em que condenam as ações de agentes públicos e os "excessos" de manifestantes nos protestos antidemocráticos que ocorrem pelo país. O texto diz que tais comportamentos alimentam a "desarmonia na sociedade". A nota das Forças Armadas não foi bem recebida pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que defendeu o silêncio dos militares em relação ao processo político.
O comunicado foi divulgado após uma reunião de emergência entre os três comandantes e o presidente Jair Bolsonaro na quinta-feira. Os militares condenaram "eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos" e também "eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública".
As Forças Armadas ainda defenderam os manifestantes que pedem uma intervenção militar após a derrota de Bolsonaro. Citando uma lei aprovada pelo Congresso brasileiro, os comandantes alegaram não ser crime "a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais".
O texto também aconselhou as autoridades da República, "instituídas pelo Povo", a prestarem atenção às "demandas legais e legítimas da população". Por fim, os comandantes alegaram primar pela "Legalidade, Legitimidade e Estabilidade" do Brasil. Os militares divulgaram o comunicado após terem atestado, na terça-feira, que as urnas eletrónicas não foram fraudadas nas eleições.
"Atos contra a democracia"
O PT, de Lula da Silva, discordou da nota das Forças Armadas e classificou os "atos contra a democracia" como "golpismo". Gleise Hoffmann, presidente nacional do partido, afirmou no Twitter que "não é papel dos comandantes militares opinar sobre o processo político, muito menos sobre a atuação das instituições republicanas". A líder dos Trabalhadores exortou ao combate aos atos, porque estes não são "pacíficos nem ordeiros".
Na quinta-feira, Lula, citado pelo portal Metrópoles, declarou que a auditoria às urnas feita pelas Forças Armadas foi "humilhante" e "deplorável". O presidente eleito argumentou que o assunto deve ser tratado pela sociedade civil, pelos partidos e pelo Congresso. A imprensa brasileira afirma ainda que Lula planeia tirar milhares de militares de cargos no Governo federal.