Se esperança ainda houvesse, o último relatório do Ministério da Defesa do Brasil aniquilou qualquer possibilidade da extrema-direita brasileira contestar a eleição de Lula da Silva. Não há nenhum indício de fraude eleitoral nas presidenciais do dia 30 de outubro, aponta-se.
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"Quanto à fiscalização da totalização, foi constatada, por amostragem, a conformidade entre os boletins impressos e os dados disponibilizados pelo TSE [Tribunal Superior Eleitoral]", pode ler-se no relatório de 63 páginas disponibilizado pelas Forças Armadas, na quarta-feira.
A pedido de Jair Bolsonaro, os militares participaram pela primeira vez como observadores das eleições e do sistema de votação, que foi alvo de uma campanha difamatória por parte do líder brasileiro nos meses que antecederam as eleições, apesar de nunca ter apresentado nenhuma prova de que pudesse ser adulterado.
Ainda que sem provas de fraude, o parecer do Ministério da Defesa levantou dúvidas em relação à fiabilidade do sistema de votação. Foi "observado que a ocorrência de acesso à rede, durante a compilação do código-fonte e consequente geração dos programas (códigos binários), pode configurar relevante risco à segurança do processo". As Forças Armadas indicaram ainda que "dos testes de funcionalidade, realizados por meio do Teste de Integridade e do Projeto-Piloto com Biometria, não é possível afirmar que o sistema eletrónico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento".
Posto isto, o relatório sugeriu a criação de uma comissão específica, integrada "por técnicos renomados da sociedade e por técnicos representantes das entidades fiscalizadoras", para garantir a maior fiabilidade do processo e das urnas, e ainda uma investigação profunda para "melhor conhecimento do ocorrido na compilação do código-fonte e de seus possíveis efeitos".
Várias organizações internacionais, entre as quais, a missão da Rede dos Órgãos Jurisdicionais e de Administração Eleitoral da CPLP, concluíram que as eleições presidenciais no Brasil cumpriram com os padrões internacionais e que as urnas eletrónicas foram seguras e tornaram célere a contagem.
"O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recebeu com satisfação o relatório final do Ministério da Defesa, que, assim como todas as demais entidades fiscalizadoras, não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrónicas e no processo eleitoral de 2022", lê-se numa nota divulgada pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes.
"As sugestões sobre formas de aperfeiçoar o sistema serão analisadas", acrescentou.
Com 100% dos votos contados, Luiz Inácio Lula da Silva ganhou as eleições presidenciais de 30 de outubro por uma margem estreita, recebendo 50,9% dos votos, contra 49,1% para Jair Bolsonaro, que procurava um novo mandato de quatro anos.
Nos três dias após as eleições, camionistas e apoiantes de Bolsonaro encetaram centenas de bloqueios de estradas por todo o país, mas levantaram os protestos após o líder da extrema-direita brasileira ter apelado para que não cortassem a livre circulação dos cidadãos. No dia 2 de novembro, feriado, milhares de pessoas manifestaram-se fora dos quartéis militares nas principais cidades do Brasil a pedir um golpe de Estado contra os resultados eleitorais.
Mas sem qualquer indício de fraude, a esperança dos "bolsonaristas" cai por terra e Lula da Silva assumirá novamente a presidência do Brasil a 1 de janeiro de 2023 para um terceiro mandato, após ter governadoo país entre 2003 e 2010.