Quatro ministros, dois parlamentares e um dirigente do partido Conservador pediram a demissão esta quinta-feira em oposição ao acordo para o Brexit aprovado pelo governo da primeira-ministra Theresa May.
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O ministro do Brexit, Dominic Raab, anunciou a demissão após ser conhecido o acordo para o divórcio do Reino Unido com a União Europeia. "Não posso, em consciência, apoiar os termos propostos para o nosso acordo com a União Europeia", explicou Raab na carta de demissão divulgada na sua conta na rede social Twitter, adiantando que o motivo da discordância se prende com futuro estatuto da Irlanda do Norte.
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Na carta a Teresa May, Raab, que apoiou o Brexit no referendo de 2016, disse que não pode apoiar o acordo por duas razões.
Por um lado, porque entende que "o regime regulatório proposto para a Irlanda do Norte representa uma ameaça real à integridade do Reino Unido", e por outro, porque não pode aceitar a cláusula de segurança para evitar uma fronteira na Irlanda "seja indefinida" e que a União Europeia "tenha direito de veto" sobre a capacidade do Reino Unido em rescindi-la".
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Também a ministra do Trabalho e Pensões britânica, Esther McVey, pediu a demissão esta quinta-feira. Na sua conta do Twitter, Esther McVey diz que o acordo preliminar assinado com Bruxelas "não honra os resultados do referendo" de 23 de junho de 2016, no qual 52% dos britânicos apoiaram a saída da União Europeia.
Segundo a imprensa britânica, McVey foi a ministra que mais frontalmente criticou o acordo durante o conselho de ministros de quarta-feira que aprovou "coletivamente" o acordo.
Citando fontes anónimas do governo, a imprensa britânica indicou que 11 dos 18 membros do governo que participaram no conselho de ministros que levou cinco horas para aprovar o documento criticaram o acordo.
Já esta quinta-feira tinha apresentado a demissão o ministro britânico para a Irlanda do Norte, o conservador Shailesh Vara. "Não posso apoiar o acordo de retirada concluído com a União Europeia", disse Vara na sua carta de renúncia postada na sua conta no Twitter.
Este acordo não permite que o Reino Unido seja um país soberano e independente
O deputado conservador disse que o acordo preliminar firmado com Bruxelas pela primeira-ministra britânica, Theresa May, deixa o Reino Unido a meio do caminho, sem um limite de tempo que determine quando o país finalmente se tornará um Estado soberano. "Este acordo não permite que o Reino Unido seja um país soberano e independente", lamentou.
Mais tarde foi conhecida a demissão da subsecretária de Estado para o Brexit, Suella Braverman. "Eu encontro-me agora incapaz de apoiar sinceramente o acordo aprovado ontem (quarta-feira) pelo Gabinete", explicou na sua carta de demissão publicada na sua conta do Twitter, deplorando "as concessões" feitas à Bruxelas.
Não é o que os britânicos votaram em 2016 e é uma traição
De acordo com ministra-adjunta, o "backstop", uma cláusula que forçaria a Irlanda do Norte a permanecer integrada nas estruturas comunitárias para evitar o estabelecimento de uma fronteira com a República da Irlanda, não é o Brexit pelo qual os cidadãos votaram.
"Não é o que os britânicos votaram em 2016 e é uma traição", escreveu Suella Braverman, referindo que a cláusula é um mecanismo que colocará em risco a união do Reino Unido porque a província da Irlanda do Norte terá "um regime regulatório diferente" do resto do país.
Esta quinta-feira foram também anunciadas as saídas de Ranil Jayawardena e Anne-Marie Trevelyan, membros de secretarias parlamentares que dão apoio ao governo.
À tarde foi a vez de Rehaman Chishti resignar ao cargo de vice-presidente do partido Conservador.
O Governo britânico aprovou na quarta-feira o rascunho de acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia, tendo sido encontrado com a União Europeia (UE) uma solução para evitar o regresso de uma fronteira física entre a Irlanda e a Irlanda do Norte.
Esta quinta-feira, o presidente do Conselho Europeu anunciou, em Bruxelas, que prevê convocar uma cimeira extraordinária de líderes da União Europeia a 27 para dia 25 de novembro, para "finalizar e formalizar o acordo de Brexit" com o Reino Unido.
No início de novembro, o ministro dos Transportes do Reino Unido, Jo Johnson, demitiu-se em oposição ao plano para o Brexit da primeira-ministra, Theresa May, e pediu um segundo referendo sobre a saída.