Uma miss e modelo birmanesa publicou uma fotografia no Facebook com uma espingarda de assalto, na selva, afirmando que está a fazer a "revolução", quando muitos jovens se unem a grupos armados para fazerem frente à Junta Militar.
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A fotografia da modelo Htar Htet Htet, de 30 anos, vencedora do concurso Miss Birmânia 2013, foi publicada esta quarta-feira, o dia que assinala os 100 dias após o golpe de Estado militar de 1 de fevereiro.
"Hoje faz 100 dias que perdemos tudo. Porque vim para território revolucionário? Já cá estou há um mês e 11 dias", escreveu Htar Htet Htet na mensagem que publicou na rede social Facebook.
"Eu não faço política, mas derrotando a ditadura eu faço a revolução", acrescenta a birmanesa.
No passado dia 1 de maio, Htar Htet Htet publicou na rede social uma fotografia do filme "Libertarias" (1996), do realizador espanhol Vicente Aranda, em que as atrizes Ana Belén, Victoria Abril e Ariadna Gil interpretam milicianas anarquistas durante a Guerra Civil de Espanha (1936-1939).
Calcula-se que centenas de jovens estão atualmente a receber treino militar junto de grupos de guerrilha das várias minorias étnicas dos Estados de Karen (leste) e Kachin (norte), cansados dos efeitos quase nulos dos protestos pacíficos contra a Junta Militar do Myanmar (antiga Birmânia).
Os jovens mostram-se dispostos a organizar a luta armada contra a ditadura militar integrados em grupos na selva, mas muitos dizem estar dispostos a regressar às cidades para formarem organizações de guerrilha urbana.
Outras figuras públicas da Birmânia já se uniram aos movimentos de desobediência civil como o ator e modelo Paing Takhon, que permanece detido desde o mês de abril, acusado de incitar à violência por mostrar publicamente apoio aos protestos contra o golpe de Estado.
Hoje, segundo a imprensa local, controlada pelo Exército, as forças de segurança prenderam 39 pessoas supostamente envolvidas em ataques ou dispostas a integrar grupos rebeldes para receberem treino militar.
Estas detenções começaram no dia 17 de abril em Rangum durante uma rusga à casa de um opositor ao golpe de Estado onde as autoridades no poder dizem ter encontrado munições, detonadores e mechas para explosivos, escreve o jornal "The Global New Light of Myanmar" que agora é controlado pelos militares.
De acordo com a notícia, a polícia relaciona as detenções com a série de ataques com explosivos ocorridos na antiga capital do país contra edifícios governamentais, apesar de os atentados não terem sido reivindicados.
Outras operações levaram à prisão um total de 39 pessoas supostamente relacionadas com ataques e "ações suspeitas" como a vontade de se unirem às guerrilhas étnicas que operam sobretudo no leste da Birmânia.
Pelo menos 783 pessoas morreram desde o golpe de Estado devido à brutal repressão da polícia e dos militares durante as manifestações, em todo o país.
Segundo a Associação de Auxílio aos Presos Políticos, além do balanço de mortos, divulgou o número de presos políticos que ascende a cinco mil detidos de forma arbitrária.
O Exército da Birmânia justificou o golpe de Estado com a alegada fraude eleitoral de novembro de 2020.
Nas legislativas o Liga Nacional para a Democracia, da Nobel da Paz Aung Sang Suu Kyi, venceu as eleições, como em 2015, em resultados validados pelos observadores internacionais.