No terceiro dia da ofensiva turca no norte da Síria, as forças invasoras tentam avançar mas enfrentam uma forte resistência dos combatentes curdos.
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O último balanço do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) indica que 41 combatentes curdos e 17 civis foram mortos na ofensiva desde quarta-feira.
Ancara anunciou a morte de um soldado e oito civis, incluindo um bebé e uma menina de 11 anos, devido a disparos de "rockets" curdos sobre as cidades turcas fronteiriças. Os confrontos concentram-se numa faixa de 120 quilómetros, ao longo da fronteira sírio-turca.
Vizinha da Síria, a Turquia lançou na quarta-feira uma operação militar, envolvendo forças aéreas e terrestres, contra a milícia curdo síria Unidades de Proteção Popular, que considera "um grupo terrorista" e que quer afastar da fronteira dos dois países.
A ofensiva provocou protestos internacionais, com vários países ocidentais a expressarem preocupação com o futuro dos civis, mas também dos combatentes radicais detidos pelas forças curdas, que poderão fugir.
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As Forças Democráticas Sírias (conduzidas pelas Unidades de Proteção Popular), que utilizam túneis e trincheiras para se defenderem, lutam para travar o avanço das tropas turcas, que na quinta-feira ocuparam 11 aldeias sírias, duas das quais foram entretanto recuperadas pelas forças curdas.
Tal Abyad e Ras al-Ayn, quase completamente abandonadas pelos habitantes, são as zonas mais afetadas, indicou um centro de imprensa ligado às autoridades curdas locais.
A ONU calcula que 70 mil pessoas tenham fugido do conflito em direção a leste, para a cidade síria de Hassaké, poupada pelos combates. A organização Médicos Sem Fronteiras indicou ter sido forçada a fechar um hospital que apoiava em Tal Abyad, porque os bombardeamentos obrigaram à fuga dos pacientes e do pessoal de saúde. Outras ONG alertaram contra um novo desastre humanitário na Síria.
Com a ofensiva, a Turquia espera também criar uma "zona de segurança" para instalar uma parte dos 3,6 milhões de sírios refugiados no seu território. Em resposta às críticas europeias, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou enviar para a Europa aqueles refugiados sírios.
A "luz verde" dada pelos Estados Unidos à operação turca - ao anunciar a retirada dos soldados norte-americanos estacionados do lado sírio da fronteira - foi considerada uma traição pelas forças curdas, que como aliadas da coligação internacional dirigida por Washington foram o principal ator da derrota dos combatentes do autoproclamado Estado Islâmico.
Em Nova Iorque, cinco países europeus que integram o Conselho de Segurança - Paris, Berlim, Bruxelas, Londres, Varsóvia - exigiram a suspensão da ofensiva. A França disse que os europeus analisarão "na próxima semana" a possibilidade de sanções contra Ancara.
A ofensiva de Ancara abre uma nova frente na guerra da Síria que já causou mais de 370 mil mortos e milhões de deslocados e refugiados desde que foi desencadeada em 2011.