Mulher de Lula causa polémica após criticar efeitos nocivos do TikTok em jantar com Xi Jinping
A primeira-dama brasileira Janja, mulher do presidente Lula da Silva, protagonizou um momento que causou polémica durante um encontro entre o presidente chinês Xi Jinping e a delegação brasileira, ao pedir a palavra para falar dos efeitos nocivos da rede social chinesa TikTok.
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De acordo com fontes da comitiva brasileira, citados pelo portal "G1", Janja pediu a palavra para falar durante um jantar oficial em Pequim e disse que o TikTok representava um desafio numa altura de avanço da extrema-direita no Brasil, uma vez que, na sua opinião, o algoritmo da plataforma favorece a direita. Em resposta, Xi Jinping disse que o Brasil tem legitimidade para regulamentar e até banir a plataforma.
Segundo um ministro, citado pelo mesmo portal brasileiro, ninguém entendeu “nem o tema, nem o pedido” para intervir e a situação foi confrangedora, uma vez que a postura da brasileira foi considerada inadequada e desrespeitosa porque o encontro não previa debate destas questões.
As mesmas fontes adiantam que também a primeira-dama da China, Peng Liyuan, terá ficado irritada com o comportamento de Janja durante o encontro.
Lula diz que Janja não é "cidadã de segunda classe"
A polémica levou Lula da Silva a reagir, criticando, na terça-feira, a fuga de informação sobre o encontro que teve com Xi Jinping, já que o diálogo sobre o TikTok, que acabou por ser divulgado pela Imprensa brasileira, era para ser confidencial e restrito aos participantes da comitiva
"A primeira coisa que acho estranha é como essa pergunta chegou à Imprensa, porque só estavam lá os meus ministros: o Alcolumbre e o Omar. Alguém teve a pachorra de ligar para alguém e contar uma conversa que aconteceu num jantar que era algo muito pessoal e confidencial", afirmou Lula numa conferência de imprensa que concedeu em Pequim antes de partir após uma visita de três dias à capital chinesa. “Eu vi na notícia que um ministro estava incomodado. Se um ministro estivesse incomodado, deveria pedido para sair. Eu autorizaria que saísse”.
Na opinião do presidente, não houve nenhuma manifestação desrespeitosa por parte da primeira-dama. Segundo Lula, a conversa foi natural e o objetivo era discutir a regulamentação de plataformas digitais, um tema de interesse público e urgente.
"Eu fiz uma pergunta ao companheiro Xi Jinping se era possível enviar para o Brasil uma pessoa da confiança dele para discutir a questão digital e, sobretudo, o TikTok", explicou, acrescentando que foi nessa altura que Janja quis intervir, dizendo também que, no Brasil, mulheres e crianças são alvo de ataques na plataforma.
"A Janja pediu a palavra para explicar o que está a acontecer no Brasil em relação às mulheres e crianças. O presidente Xi disse que o Brasil tem o direito de fazer a regulamentação. Nós precisamos de regulamentar", continuou Lula.
O chefe de Estado brasileiro referiu ainda que Janja pediu a palavra porque não é "cidadã de segunda classe" e tem pleno direito de participar nas discussões. "A pergunta foi minha. Eu não me senti nem um pouco incomodado. O facto de a minha mulher ter pedido a palavra deve-se ao facto de que ela não se considerar uma cidadã de segunda classe. Ela entende mais de redes sociais do que eu", rematou.
A primeira-dama brasileira já tinha defendido a regulamentação das redes sociais no mês passado, após uma menina de oito anos ter morrido no Distrito Federal por inalação de desodorizante, supostamente motivada por um desafio no TikTok.
Detida pela empresa chinesa ByteDance, o TikTok é um dos motivos de disputa entre Washington e Pequim devido à pressão do governo norte-americano para venda da empresa nos EUA.