Uma mulher morreu com uma infeção generalizada causada por um ramo de salsa que introduziu no útero para forçar um aborto. Um caso está a chocar a Argentina, duas semanas depois de o Senado ter contrariado os deputados votando contra a legalização da interrupção da gravidez.
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A mulher, de 34 anos, deu entrada no Hospital Belgrano, em San Martin, Argentina, no passado domingo. "Tinha um ramo de salsa no útero e apresentava um quadro de choque sético", segundo Ana Paula Fagiolo, da Rede de Profissionais de Saúde pelo Direito a Decidir.
"Foi sujeita a uma histerectomia de urgência, em que se lhe retirou o útero, onde estava a infeção. Mas este tipo de infeções avança muito depressa e o quadro era gravíssimo", acrescentou, citada pela imprensa argentina. Entre a vida e a morte, a jovem, oriunda de uma das zonas mais pobres de José León Suárez, na Argentina, foi transferida para o Hospital Geral de Pacheco, na cidade de Tigre, mas não resistiu.
"O útero é um local sem germes. Ao introduzir talos de salsa entraram no útero os germes da vagina, da salsa e do local onde vivia a mulher, causando uma infeção interna do útero", explicou Ana Paula. "Quando se chega ao estado desta mulher, o útero transforma-se num foco de infeção e a doença dissemina-se rapidamente de forma vascular", explicou.
Com a mulher estiveram sempre a mãe e a irmã desta, que tinham medo de queixar-se, temendo que a vítima fosse presa. Na Argentina, a interrupção da gravidez só é permitida em caso de risco de vida, violação ou problemas mentais da gestante. Noutro tipo de casos, é punida com pena de prisão.
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No início do mês, o Senado contrariou os deputados e recusou a despenalização do aborto. A morte desta mulher reacende a discussão, que durante três meses dividiu a comunidade política argentina.
"Para aqueles que dizem que o aborto legal fica caro ao Estado, digo-lhes que os custos que se pagaram com esta mulher foram altíssimos: uma cirurgia para retirar o útero, uma noite nos cuidados intensivos, a mudança de hospital e uma nova intervenção cirúrgica", disse Ana Paula, crítica do chumbo da legalização do aborto na Argentina. "Sabíamos que isto ia acontecer. Este é o resultado do desespero de uma mulher pobre que fez o que tinha ao seu alcance", acrescentou.
A plataforma de apoio à legalização do aborto na Argentina reagiu em comunicado a este caso. "Desde 8 de agosto, cada mulher morta ou presa por abortar é responsabilidade do Poder Executivo Nacional e dos 40 senadores e senadoras, integrantes do poder legislativo, que se abstiveram ou votaram contra o nosso direito à vida, à saúde e ao reconhecimento da nossa dignidade".
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