Mulheres são 70% dos refugiados mas não beneficiam das mesmas medidas de integração
Sete em cada 10 refugiados adultos nos países da OCDE são mulheres, desproporção que foi aprofundada pela guerra na Ucrânia e que agravou a desigualdade das medidas de integração, conclui um relatório sobre migrações, hoje apresentado pela organização.
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Com o aumento de refugiados causado pela guerra na Ucrânia - o maior na Europa desde a II Guerra Mundial -, as mulheres passaram a representar "cerca de 70% de todos os refugiados adultos", avança o relatório "Perspetiva da Migração Internacional 2023" da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
A situação "contrasta fortemente com os fluxos de requerentes de asilo registados em crises passadas, que eram predominantemente homens", refere o documento, levando o diretor da unidade dedicada a Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da organização, Stefano Scarpetta, a defender, no editorial do relatório, a necessidade de "prestar mais atenção à dimensão de género da migração".
De acordo com os analistas da OCDE, a família (seja para formação ou reunificação) continua a ser o motor mais importante da migração para os Estados-membros da OCDE, considerados como os mais desenvolvidos do mundo. As mães migrantes desempenham um papel importante na transmissão de valores aos seus filhos e a sua força de trabalho tem um impacto significativo no desenvolvimento da família, mas este grupo enfrenta barreiras importantes no mercado laboral, segundo destaca o documento.
"Em média, a taxa de emprego [das mães migrantes] é 20 pontos percentuais inferior à das mulheres migrantes sem filhos" e "em comparação com as mães nativas, têm empregos mais frágeis, consoante o número de filhos e as suas idades", alega o relatório, acrescentando que "muitas vezes ficam presas numa inatividade involuntária".
Necessidades desconsideradas
A organização alerta ainda que estas tendências "moldaram frequentemente estereótipos e conceitos errados, incluindo políticas", pelo que as necessidades específicas das mães migrantes foram cada vez mais desconsideradas. O relatório conclui ainda que a ideia de que as mães migrantes podem ajudar a rejuvenescer a população é preconcebida e está cada vez mais longe da realidade.
"Embora possam contribuir substancialmente para o número total de nascimentos em muitos países da OCDE, já que muitas chegam aos países de destino durante os seus anos férteis e através de canais de reagrupamento familiar, as suas taxas de fertilidade são decrescentes", sublinha o documento.
A fertilidade dos migrantes "é um elemento importante na dinâmica populacional dos países recetores", mas há uma tendência para sobrestimar as diferenças entre as mulheres migrantes e as mulheres nascidas no país, explicam os investigadores, adiantando que, "geralmente, os padrões de fertilidade entre os migrantes e os nativos tendem a convergir".
Ter filhos "tem implicações importantes no processo de integração, uma vez que tem impacto na sua ligação ao mercado de trabalho", dizem os analistas.
Por isso, frisam os peritos da OCDE, "os decisores políticos devem considerar políticas que permitam às mulheres entrar ou reentrar no mercado de trabalho", não só quando chegam ao país recetor, mas também depois de se tornarem mães.