O futuro Museu Nacional 11 de Setembro ocupa uma enorme área subterrânea construída por baixo do Memorial. Prevê-se que este museu - cuja inauguração está prevista para 2012 - será um dos mais visitados dos Estados Unidos, com pelo menos cinco milhões de entradas por ano.
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O espaço incluirá, por exemplo, veículos de bombeiros, blocos gigantescos de metal retorcido, uma ambulância semi-destruída, o que resta de um elevador, uma escadaria de betão e um pedaço da antena de telecomunicações que estava instalada no topo da Torre Norte.
Além de incluir estes vestígios óbvios da destruição, o Museu 11 de Setembro conta sobretudo "preservar a memória" de cada uma das quase três mil vítimas através de fotografias, vídeos, testemunhos orais e, sobretudo, objectos pessoais.
Jan Ramirez, a curadora principal do museu, explicou ao JN as dificuldades encontradas na gestão desta colecção: "Os agentes do FBI e da Polícia de Nova Iorque encontraram cerca de 100 mil objectos pessoais entre os 1,8 milhões de toneladas de destroços. A maior parte foi devolvida aos familiares das vítimas.
Há dois anos solicitámos a colaboração destas famílias e dos sobreviventes e sugerimos que nos enviassem objectos com um significado especial. A resposta foi surpreendente. Recebemos mais de mil (objectos) e quase não há espaço nas nossas instalações para mais.
Nunca se sabe o que vem dentro das caixas ou dos sacos que recebemos: uma carteira, uma peça de joalharia, um relógio com os ponteiros nas 10h28 (momento em que a Torre Norte ruiu), chaves, um capacete, uma mala de senhora com todo o conteúdo - por vezes intacto, outras vezes totalmente esmagado ou semi-derretido - que ela transportava no dia 11 de Setembro.
Uma coisa em comum entre todos estes objectos é o cheiro muito particular. Nós chamamos-lhe o 'Cheiro a World Trade Center': uma mistura de combustível, papel queimado, químicos, carpete ardida.
Muitos sobreviventes, curiosamente, ofereceram-nos os sapatos ou peças de vestuário que usaram no dia 11 de Setembro de 2001. Sapatos ainda cobertos de poeira de cimento, enfiados desde esse dia num saco selado porque (os sobreviventes) não suportavam a ideia de os limpar ou deitar fora.
Na semana passada, um homem trouxe-nos o fato e sapatos meio destruídos. Sentou-se no meu gabinete e chorou sem parar durante uma hora. Na manhã de 11 de Setembro ele estava no 88º andar de uma das torres, encontrou uma mulher numa cadeira de rodas e carregou-a aos ombros até sairem do edifício.
Salvaram-se ambos. Mas ele nunca mais falou do assunto com ninguém, arrumou a roupa num canto. Até hoje. Foi uma forma de lidar com a tragédia.
Muitas destas histórias atestam o peso terrível que o destino, a fatalidade tiveram naquele dia. Quem virou à esquerda, por exemplo, encontrou uma escada com acesso livre até ao rés-do-chão (de uma das torres).
Mas se calhar quem virou à direita já não encontrou a saída. Tão simples como isso. Apesar da dimensão da colecção, exibiremos apenas cinco ou dez objectos pessoais de cada vez".