Refugiados em fuga da guerra na Ucrânia estão a ser alvo de ataques xenófobos e racistas por parte de nacionalistas polacos, que também lançam campanhas de desinformação sobre os cidadãos recém-chegados.
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Um grupo de nacionalistas polacos atacou, na terça-feira, cidadãos africanos, sul-asiáticos e do Médio Oriente recém-chegados à Polónia, vindos de várias cidades da Ucrânia em fuga da ofensiva russa, que já dura desde quinta-feira (saiba aqui os pontos-chave deste sétimo dia de invasão).
Segundo a Polícia polaca, os agressores, vestidos de preto, agrediram grupos de refugiados não brancos, nomeadamente estudantes que tinham acabado de chegar à estação de comboios de Przemyśl - de acordo com o embaixador da Ucrânia na África do Sul, cerca de 16 mil estudantes africanos estavam a estudar na Ucrânia antes da invasão. Três homens indianos foram espancados e um deles acabou por ser hospitalizado.
De acordo com o embaixador da Ucrânia na África do Sul, cerca de 16 mil estudantes africanos estavam a estudar na Ucrânia antes da invasão.
"Por volta das 19 horas [de terça-feira], esses homens começaram a gritar contra grupos de refugiados africanos e do Médio Oriente que estavam do lado de fora da estação de comboios. Começaram a gritar-lhes que voltassem para a estação e para o seu país", disseram ao "The Guardian" dois jornalistas polacos da agência de notícias OKO, que relatou o incidente pela primeira vez. "Przemyśl sempre polaca", vociferaram.
Sara, de 22 anos, natural do Egito e a estudar na Ucrânia, estava com os amigos a comprar comida no exterior na estação quando foi abordada pelos indivíduos. "Esses homens chegaram e começaram a assediar um grupo de homens da Nigéria. Não deixaram um menino africano entrar num sítio para comer alguma coisa. Depois, vieram na nossa direção e gritaram: 'Voltem para o vosso país'", relatou à mesma publicação.
Mentiras sobre crimes de refugiados
Na sequência do incidente, para o qual foi mobilizada a Polícia de Choque, grupos ligados à extrema-direita começaram a divulgar informações falsas nas redes sociais dando conta de supostos crimes cometidos por refugiados africanos e do Médio Oriente que fugiram da guerra na Ucrânia. Um ataque com faca e vários roubos em lojas são só alguns exemplos das alegações de um grupo do Facebook intitulado "Przemyśl Always Polish" ("Przemyśl sempre polaca"), que, segundo o jornal online polaco "Notes From Poland", se tem dedicado a disseminar mentiras sobre os migrantes.
"Estão a circular informações falsas sobre crimes graves ocorridos em Przemyśl e na fronteira: roubos, agressões e violações. Não é verdade. A Polícia não registou um aumento do número de crimes relacionados com a situação na fronteira. #STOPFakeNews", escreveu no Twitter a Polícia de Przemyśl.
Os ataques a determinados grupos de refugiados acontecem numa altura em que alguns governos africanos envidam esforços no sentido de repatirar cidadãos que estavam na Ucrânia e entretanto passaram as fronteiras para nações vizinhas. Na quarta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Nigéria deu conta de que planeava começar a transportar mais de mil nigerianos retidos noutros países.