Durante a parada militar em Pequim, o líder chinês Xi Jinping e o presidente russo Vladimir Putin foram apanhados numa breve conversa privada sobre o transplante de órgãos e a imortalidade, um tema que gera interesse dos líderes há vários séculos.
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Enquanto se dirigiam para uma plataforma elevada na Praça da Paz Celestial, o intérprete de Putin podia ser ouvido a dizer em chinês: "A biotecnologia está em constante desenvolvimento" e "Órgãos humanos podem ser transplantados continuamente. Quanto mais se vive, mais jovem se torna, e [pode] até alcançar a imortalidade". Xi, que não aparece na câmara, pode ser ouvido a responder em chinês: "Alguns preveem que neste século os humanos possam viver até aos 150 anos". Os dois homens caminhavam ao lado do ditador norte-coreano, Kim Jong-un, que sorria e olhava para os líderes. No entanto, não ficou claro se a conversa estava a ser traduzida para ele.
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O momento levantou comentários sobre o que farão os líderes para evitar que o seu tempo acabe, já que ambos demonstraram pouca intenção de renunciar ao poder. Cada um parece destinado a governar enquanto os corpos durarem e nenhum deles apresentou um plano de sucessão claro, embora já se especule sobre se a filha de Kim Jong-un, Kim Ju Ae, que acompanhou o líder norte-coreano na visita a Pequim, será a próxima a subir ao poder na Coreia do Norte quando Kim morrer. Por sua vez, em 2018, Xi aboliu os limites de mandato presidencial, abrindo caminho para que governasse por tempo indeterminado. Putin também alterou a lei russa em 2020, podendo permanecer no poder até 2036, quando terá 83 anos, superando o mandato de Estaline.
Embora tenha havido rumores ao longo dos anos de que tem cancro ou doença de Parkinson, Putin é conhecido por ser paranóico sobre a sua saúde, por confiar na sua equipa de médicos e por recorrer à medicina alternativa na sua busca pela vitalidade. Há relatos que alegam que o líder russo se banha em sangue de veado vermelho siberiano e submete visitantes a quarentenas de duas semanas para evitar transmitir doenças. Segundo Mikhail Rubin, jornalista russo e coautor de uma biografia sobre o presidente, citado pelo jornal britânico "The Guardian", há poucos indícios de que Putin precise de cuidados médicos constantes, mas, ainda assim, viaja rotineiramente com uma grande comitiva de médicos de diversas especialidades.
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É também relatado que Mikhail Kovalchuk, amigo de longa data da família, frequentemente descrito como o cientista favorito de Putin, está a liderar a investigação russa sobre a imortalidade. De acordo com o portal russo "Meduza", Kovalchuk criou vários institutos com financiamento estatal para investir em novas tecnologias, incluindo impressão de órgãos com células cultivadas em laboratório para criar órgãos de substituição. Já a filha mais velha de Putin, Maria Vorontsova, endocrinologista, também recebeu grandes bolsas do governo para estudar a extensão da saúde e longevidade humanas, e está envolvida num programa de investigações genética vinculado a Kovalchuk.
Mikhail Kovalchuk, amigo de longa data da família, frequentemente descrito como o cientista favorito de Putin
Foto: Olga Maltseva / AFP
Por sua vez, embora menos obcecada pela imortalidade, a China também investiu em investigação sobre o envelhecimento, já que o país tem a maior população idosa do Mundo. De acordo com a revista "Time", em 2016, o governo chinês lançou o Programa Principal sobre Envelhecimento e Degeneração de Órgãos, uma iniciativa focada no estudo dos mecanismos celulares e moleculares do envelhecimento.
Na Coreia do Norte, também existe um "Instituto de Investigação de Longa Vida e Saúde", um termo coletivo para três instituições: o Instituto Médico Básico, o Instituto de Investigação de Cheongamsan, sob o Comando da Guarda, e o Instituto de Investigação de Mangchongsan, sob o Departamento 73. Estes institutos investigam a medicina, a dieta e a manutenção da saúde exclusivamente para a longevidade da família Kim.
Vários séculos a tentar adiar a morte
A busca pela longevidade, porém, não é novidade, e muito menos um interesse moderno. Há muito tempo que os governantes procuram formas de prolongar as suas vidas, segundo o "The Guardian". O primeiro imperador da China, Qin Shi Huang (259-210 a.C.), por exemplo, enviou expedições ao mítico Monte Penglai em busca de elixires da vida eterna, embora as infusões de mercúrio que bebeu possam ter acelerado a sua morte. Reza também a lenda que Alexandre, o Grande, vagueou pela "Terra das Trevas", uma floresta mítica e perpetuamente escura, na busca pela água da vida.
Vários séculos depois, Estaline, um doente cardíaco, criou um departamento para gerir exclusivamente a sua saúde e tratamento. No entanto, quando sofreu uma hemorragia cerebral em 1953, morreu ao fim de quatro dias sem receber tratamento, pois o diretor do departamento bloqueou o acesso aos médicos.
Mais recentemente, o italiano Silvio Berlusconi abordou o mesmo problema com transplantes capilares, cirurgias plásticas e tratamentos sanguíneos. Morreu aos 86 anos após uma infeção pulmonar. Já Nursultan Nazarbayev, presidente do Cazaquistão, ordenou a criação de um instituto em Astana para estudar o "rejuvenescimento do organismo", o genoma humano e medicamentos baseados em genes. O líder cazaque, agora com 85 anos, foi afastado em 2022.