O alcaide de Pontevedra, cidade espanhola cujo centro está praticamente todo pedonalizado, disse, em entrevista à Lusa, ter concluído que não poderia "resolver o tema do trânsito" automóvel procurando maior fluidez, por ser "impossível", devido à falta de espaço.
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"A maior conclusão a que chegámos foi a de que não se pode resolver o tema do trânsito tentando melhorar a agilidade do trânsito, a fluidez. Isso é impossível porque já não há mais espaço", afirmou Miguel Anxo Lores, que preside ao município de Pontevedra, na Galiza.
Falando à Lusa por videoconferência em antecipação ao congresso Cidades que Caminham, que decorre na quinta e na sexta-feira na Fundação Manuel António da Mota, no Porto, e no qual participará, o autarca vincou a importância da política no processo levado a cabo desde 1999, ano em que chegou ao poder.
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O alcaide do Bloco Nacionalista Galego (BNG) disse que o primeiro passo foi tomar a "decisão política de recuperar o espaço para os peões", ao reduzir os trânsitos "chamados desnecessários para que a cidade funcione, que são dois".
"Um é o trânsito de passagem, que cruza a cidade sem parar, que no caso de Pontevedra era no mínimo de 30% dos carros que entravam e saíam da cidade, não paravam [...]. Não servia para nada a não ser para gerar contaminação, ruído e acidentes", explicou.
"Outro é o tráfego de procura de estacionamento no espaço urbano de superfície", disse, estimando que estaria nos "30% ou 40%" no centro de Pontevedra (cerca de seis quilómetros quadrados).
Menos estacionamento no centro
Miguel Lores classificou a procura de estacionamento como algo "estúpido, porque já se sabe que não há", já que "por cada lugar que fique livre em determinado momento passam 50 ou 100 carros", o que "quer dizer que estão todos à procura de lugar". A pessoa que conduza está, assim, a "dar voltas estupidamente, a gastar gasolina, a contaminar, a provocar acidentes, chateada".
A cidade apostou na construção de parques de estacionamento subterrâneos, "públicos e privados", e os mais recentes com um piso "inteiramente para residentes que não tinham garagem", numa concessão "por 60 ou 70 anos".
Pontevedra criou também parques de estacionamento periféricos, permitindo ir a pé para a cidade e chegar ao centro histórico em 10 ou 15 minutos.
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O município decidiu proibir estacionar no centro histórico, deixando "nas zonas mais comerciais, que não são estritamente pedonais, zonas de estacionamento de serviços", para quem "está a trabalhar, de carga e descarga, para a gente que tem de fazer viagens com pesos e levar coisas a sua casa, a uma loja".
"Esses lugares utilizam-se muito", disse, explicando que nesta rotação "podem estacionar 30 ou 40 carros por dia, mas não geram trânsito nem congestionamento, porque as pessoas vão a uma rua específica".
O autarca garantiu que "esse tráfego com destino é o tráfego necessário para que a cidade funcione, e é muito menos do que se pensa", permitindo "que as crianças vão a pé para a escola, que as pessoas com mobilidade reduzida possam andar pelas ruas", algo que "funciona muito bem".
Em Pontevedra, "as pessoas têm direito a aceder à sua garagem, a levar uma pessoa com mobilidade reduzida no carro, ou a descarregar as batatas ou as alfaces que vão buscar à aldeia no fim de semana", fazendo-o "mais facilmente do que antes, quando havia lugares ocupados por carros".
O alcaide referiu também o conceito da "cidade compacta e de multisserviços", defendendo que a maior parte das necessidades de uma pessoa numa cidade deve estar a 500 metros ou a um quilómetro de casa, evitando a utilização do carro.