"Não viveremos de joelhos". Ex-diretor do FBI acusado de obstrução à justiça e perjúrio
O ex-diretor da agência federal de investigação criminal norte-americana (FBI), James Comey, acusado esta quinta-feira de obstrução à justiça e perjúrio, afirmou não ter "medo" e que "este é a arma dos tiranos".
Corpo do artigo
"Não tenho medo", reagiu na quinta-feira, James Comey, acrescentando que "o medo é a arma dos tiranos". "A minha família e eu sabemos há anos que há um preço a pagar por se opor a Donald Trump. (...) Não viveremos de joelhos, e vocês também não deveriam" fazê-lo, afirmou numa mensagem de vídeo publicada na rede social Instagram, concluindo: "Tenho confiança na justiça federal e sou inocente. Então, vemo-nos no julgamento e mantenham a fé".
Comey foi acusado de obstrução à justiça e perjúrio por grande júri federal em Alexandria, estado da Virgínia, depois de o presidente norte-americano, Donald Trump, apelar publicamente a que fosse processado judicialmente.
A acusação decorre de um depoimento de Comey ao Comité Judiciário do Senado em setembro de 2020 sobre a investigação do FBI às ligações entre a campanha presidencial de Trump em 2016 e a Rússia.
Os procuradores avançaram com a acusação pouco antes do fim do prazo legal de 30 de setembro, em que o caso prescreveria.
O processo foi imediatamente saudado por Donald Trump, através da rede social Truth Social, que lhe pertence.
"Um dos piores seres humanos a que este país já foi exposto é James Comey, o ex-chefe corrupto do FBI. Hoje, foi acusado por um grande júri por dois crimes graves, envolvendo vários atos ilegais e ilícitos", publicou o presidente norte-americano.
"Ele tem sido tão mau para o nosso país, durante tanto tempo, e agora está prestes a ser responsabilizado pelos seus crimes contra a nossa Nação", adiantou.
O Departamento de Justiça afirmou através de um comunicado que a acusação contra Comey envolve "infrações graves relacionadas com a divulgação de informações sensíveis".
A procuradora-geral, Pam Bondi, afirmou na rede social X, logo após a divulgação da acusação contra Comey, que "ninguém está acima da lei".
"A acusação de hoje reflete o compromisso deste Departamento de Justiça em responsabilizar aqueles que abusam de posições de poder para enganar o povo americano. Vamos acompanhar os factos neste caso", adiantou a procuradora, sobre quem Trump tem vindo a exercer pressões públicas para processar indivíduos que considera inimigos políticos.
Comey foi identificado pelo presidente numa publicação nas redes sociais no passado fim-de-semana, na qual Trump se queixava diretamente a Bondi por esta ainda não ter apresentado acusações contra o ex-responsável do FBI.
Trump lamentou, numa publicação no Truth Social dirigida à procuradora-geral, que as investigações do Departamento de Justiça não tivessem resultado em processos judiciais e afirmou que nomearia Lindsey Halligan, conselheira da Casa Branca, para exercer as funções de procuradora no Distrito Leste da Virgínia.
Halligan foi uma das advogadas pessoais de Trump e não tem experiência como procuradora federal.
"Não podemos adiar mais, isto está a acabar com a nossa reputação e credibilidade", escreveu Trump, referindo-se ao facto de ele próprio ter sido acusado e submetido a processos de destituição várias vezes.
"A JUSTIÇA TEM DE SER FEITA, AGORA!!!, publicou Donald Trump.
Halligan apressou-se a apresentar o caso a um grande júri esta semana.
O gabinete que abriu o processo contra Comey, no Distrito Leste da Virgínia, entrou em crise na semana passada, na sequência da demissão do procurador-chefe Erik Siebert, sob pressão para apresentar acusações contra outro alvo de Trump, a procuradora-geral de Nova Iorque, Letitia James, numa investigação de fraude hipotecária.
Há anos que Trump se manifesta contra a conclusão das agências de informações norte-americanas de que a Rússia o preferiu à democrata Hillary Clinton nas eleições de 2016 e contra a investigação criminal que tentou determinar se a sua campanha tinha conspirado com Moscovo para influenciar o resultado dessa disputa.
Os procuradores, liderados por Robert Mueller, não provaram que Trump ou os seus parceiros conspiraram criminalmente com a Rússia, mas concluíram que a campanha de Trump acolheu favoravelmente a ajuda de Moscovo.