O líder do Partido da Independência do Reino Unido é adepto do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, é anti-imigração, quer o fim da livre circulação de pessoas e a saída do mercado único europeu.
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Nigel Farage é obstinado. Se é uma virtude ou um defeito, depende de quem olha. Para o líder interino do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) - em virtude de a sua sucessora, Diane James, ter reinado apenas durante uns curiosos 18 dias -, a luta pela ascensão do nacionalismo continua mesmo após a épica vitória no referendo que ditou, a 23 de junho deste ano, a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit).
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Nem oceanos o demovem, como o comprova a celeridade com que foi a Nova Iorque, nos Estados Unidos, cumprimentar Donald Trump, parceiro de populismo que chegou à Casa Branca apesar de recolher menos votos do que a adversária direta, Hillary Clinton. A reunião terá sido "muito produtiva".
Nigel Paul Farage nasceu em Downe, Kent, sudeste de Inglaterra, a 3 de abril de 1964. A exemplo do pai, o corretor da bolsa Guy Oscar Justus Farage, destacou-se no mercado financeiro de Londres.
Membro do Parlamento Europeu desde 1999, assumiu o estatuto de figura-mor do UKIP pela primeira vez em 2006, condição que manteve durante três anos. Regressou em 2010 e abandonou a liderança após o referendo. Agora, aguarda o sucessor.
Lembram-se da obstinação? Quando Farage decidiu deixar o papel principal no UKIP, revelou que iria percorrer a Europa a oferecer apoio às estruturas e políticos que partilhem as mesmas reservas em relação ao presente projeto europeu. Não surpreende. O inglês encara o triunfo do Brexit como o pináculo da carreira política.
Além do périplo, vai manter-se como presidente do grupo Europa da Liberdade e da Democracia Direta - encabeçado pelo UKIP e que inclui elementos da extrema-direita alemã e um ex-membro da Frente Nacional francesa e que está envolvido numa polémica sobre fundos mal gastos - no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França, pelo menos até 2019.
Se, em termos ideológicos, Nigel quer ser rosto de mudança, a nível privado, é homem de hábitos sólidos. Continua a viver na região onde nasceu e frequenta, há mais de 30 anos, o mesmo pub, George & Dragon.
Sem unanimidade
Talvez não tenha havido, nos últimos 70 anos, atmosfera tão propícia à receção da mensagem de Farage. No próximo ano, a eleição presidencial em França e as legislativas na Alemanha e na Holanda podem ser sonhos à espera de se concretizar para os partidos de extrema-direita, em países atualmente mais permeáveis ao populismo, sobretudo, devido à questão dos refugiados e aos atentados terroristas levados a cabo pelo "Estado Islâmico" na Europa.
Mas a vontade de maior controlo próprio sobre os desígnios de cada nação não se cinge àquele trio. Itália e Áustria, por exemplo, também são pasto abundante para as pulsões nacionalistas.
De qualquer forma, e apesar da aura vitoriosa que o acompanha desde junho, o apaixonado por râguebi e críquete não é uma figura consensual no UKIP, teatro de vários conflitos, o mais bizarro de todos a recente cena de pugilato entre eurodeputados do partido nos corredores do Parlamento Europeu. Um dos envolvidos no incidente foi Steven Woolfe, o preferido de Farage para lhe suceder.
Curiosamente, os mais beneficiados com este clima acabam por ser os conservadores, que desde que a atual primeira-ministra britânica, Theresa May, chegou ao poder, chamaram a eles algumas das prerrogativas do UKIP, de entre as quais avultam os obstáculos à imigração, o fim da livre circulação de pessoas e a saída do mercado único europeu.