Habitantes da capital do Níger, Niamey, estão a preparar-se para uma guerra contra os países da região que admitem intervir no país para repor a ordem constitucional, na sequência do golpe de Estado de julho.
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De acordo com a agência de notícias norte-americana Associated Press (AP), os residentes pedem uma ação de recrutamento em grande escala para angariar voluntários que possam ajudar as forças armadas a combater a possível ação militar do bloco regional da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para restaurar a presidência de Mohamed Bazoum, deposto em 26 de julho pela junta militar.
"É uma possibilidade, e precisamos de estar prontos se acontecer", disse um dos organizadores da ação de angariação de voluntários, Amsarou Bako, à AP, referindo-se à iniciativa que vai começar no sábado em Niamey, e que se destina a qualquer pessoa com mais de 18 anos.
As tensões regionais têm crescido desde que a CEDEAO aprovou a ativação da força de reação rápida e ainda esta semana deverá ser realizada uma reunião dos ministros da Defesa dos países da região para analisar a situação.
"Uma intervenção militar sem fim à vista arrisca-se a desencadear uma guerra regional, com consequências catastróficas para a região do Sahel, que já é afetada por insegurança, deslocações de pessoas e pobreza", comentou o analista da Verisk Maplecroft Mucahid Durmaz.
Nigerinos convencidos que serão invadidos
Apesar dos esforços diplomáticos dos países regionais e internacionais, muitos nigerinos estão convencidos que serão brevemente invadidos, escreve a AP.
Uma eventual ação militar dividiu os países da região, com os governos da Nigéria, do Benim, da Costa do Marfim e do Senegal a confirmarem explicitamente a disponibilidade dos seus exércitos para intervir em território nigerino.
No outro extremo, os vizinhos Mali e Burkina Faso, governados por juntas militares, opõem-se ao uso da força e argumentam que qualquer intervenção no Níger equivaleria a uma declaração de guerra também contra os seus países.
Para além do Chade, a Guiné-Conacri, a Argélia e Cabo Verde também rejeitaram essa intervenção militar, defendendo antes o diálogo.
O Níger tornou-se o quarto país da África Ocidental a ser liderado por uma junta militar, depois do Mali, da Guiné-Conacri e do Burkina Faso, que também tiveram golpes de Estado entre 2020 e 2022.
Comité dos Jornalistas exige reabertura de "media" suspensos
O Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) apelou ao Burkina Faso e ao Benim para que reabram imediatamente uma estação de rádio burquinabê e um grupo de comunicação social beninense, suspensos pela cobertura do golpe de Estado no Níger.
"Os jornalistas devem ser livres de informar sobre os desenvolvimentos políticos na África Ocidental, incluindo as respostas regionais ao golpe do Níger, sem receio de represálias", disse a coordenadora do programa do CPJ em África, Angela Quintal, num comunicado divulgado terça-feira à noite em Dacar.
O Governo de transição do Burkina Faso, que se posicionou a favor da junta militar que organizou o golpe de Estado no Níger, suspendeu a Rádio Oméga "até nova ordem", depois de a estação ter entrevistado um nigerino opositor da iniciativa da junta militar que depôs o Presidente eleito, Mohamed Bazoum.
Ao anunciar a suspensão, as autoridades burquinabês afirmaram que a entrevista estava "repleta de insultos contra as novas autoridades do Níger".
Posteriormente, a Rádio Oméga, que qualificou a ordem de suspensão de "injusta e infundada", declarou que os seus jornalistas tinham começado a receber "numerosas ameaças de morte" de pessoas que afirmam apoiar o Governo do atual chefe de Estado do país, o capitão Ibrahim Traoré, no poder desde setembro de 2022, quando liderou um golpe de Estado.
O CPJ lamentou também a suspensão do grupo de comunicação social beninense La Gazette du Golfe, com imprensa escrita, televisão e rádio, presumivelmente pelas suas críticas a uma possível intervenção militar contra a junta golpista do Níger, disse um funcionário do grupo que pediu anonimato.