As autoridades ucranianas anunciaram novos cortes de energia contínuos nas maiores cidades do país e subúrbios, incluindo na capital Kiev, numa altura em que as forças russas mantêm ataques contra infraestruturas energéticas.
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Quase quatro milhões de pessoas foram afetadas por cortes de energia após os recentes ataques russos a infraestruturas energéticas na Ucrânia, adiantou esta sexta-feira o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
"Em muitas cidades e distritos do nosso país, foram introduzidos cortes para estabilizar" a situação, explicou o governante durante a sua mensagem de vídeo diária dirigida à nação. "Quase quatro milhões de ucranianos estão atualmente a enfrentar estas restrições", acrescentou.
Os cortes afetam a cidade de Kiev e arredores, bem como as províncias de Zhitomyr (centro-oeste), Poltava, Cherkasy e Kirovograd no centro, Rivne (oeste), Kharkiv (leste), Cherniguiv e Sumy no norte, apontou o chefe de Estado.
Ao início do dia, a operadora privada ucraniana DTEK tinha anunciado cortes de energia "sem precedentes" para "os próximos dias" na capital e arredores, devido aos grandes danos infligidos ao sistema de energia ucraniano pelos ataques russos.
Durante mais de duas semanas, a Rússia tem intensificado os ataques à infraestrutura energética da Ucrânia, o que causou a destruição de pelo menos um terço das suas capacidades naquela região, numa altura em que se aproxima o inverno.
Como resultado, e para evitar apagões, cortes de energia com duração de algumas horas têm sido impostos diariamente em muitas regiões.
A Ukrenergo, operadora estatal das linhas de transmissão de alta tensão da Ucrânia, referiu que foram retomadas na região de Kiev "interrupções de emergência" de quatro horas por dia.
O governador desta região, Oleksiy Kuleba, adiantou através da rede social Telegram que os moradores da capital podem esperar falhas de energia "mais duras e mais longas" em comparação com o início da guerra, noticiou a agência Associated Press (AP).
Já o presidente da câmara de Kiev realçou que a rede elétrica da cidade está a operar em "modo de emergência", devido ao fornecimento de eletricidade até metade, em comparação com os níveis anteriores à guerra.
Vitali Klitschko acrescentou que espera que a Ukrenergo encontre maneiras de lidar com a escassez "em duas a três semanas, salvo circunstâncias além do seu controlo".
30% das centrais de energia da Ucrânia foram destruídas
Na região de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, o governador anunciou no Telegram o início de cortes de energia diários de uma hora a partir de segunda-feira em toda a província, incluindo a capital regional, que é a segunda maior cidade ucraniana.
As medidas "são necessárias para estabilizar a rede elétrica, porque o inimigo continua a bombardear a infraestrutura de energia", sublinhou Oleg Syniehubov.
Um pouco por todo o país as autoridades estão a apelar à população para uma poupança de energia, reduzindo o consumo de eletricidade durante os horários de pico e evitando o uso de aparelhos de alta tensão.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, realçou na semana passada que 30% das centrais de energia da Ucrânia foram destruídas desde que a Rússia lançou a primeira vaga de ataques direcionados a este tipo de infraestruturas, em 10 de outubro.
Donetsk: "uma zona de hostilidades ativas"
Na Rússia, o ministro da Defesa informou o presidente Vladimir Putin que os militares convocaram 300 mil reservistas desde que foi dada ordem de mobilização, no mês passado, para reforçar as forças do país na Ucrânia.
O esforço de Putin para aumentar o número de tropas russas posicionadas ao longo da linha de frente de mil quilómetros na Ucrânia sofreu vários contratempos, incluindo uma retirada russa da região de Kkarkiv.
A mobilização alimentou protestos na Rússia e levou dezenas de milhares de homens a fugirem do país.
Serguei Shoigu informou ainda o chefe de Estado russo que 82 mil reservistas foram enviados para a Ucrânia, enquanto outros 218 mil ainda estão a ser treinados.
Putin indicou a Shoigu que os militares precisam de garantir que os 300 mil reservistas convocados até agora sejam treinados e adequadamente equipados "para que estes se sintam confiantes quando precisarem de ir para o combate".
Nas últimas 24 horas, mísseis russos e ataques com artilharia causaram pelo menos quatro mortos e 10 feridos, a maioria na província de Donetsk, no leste da Ucrânia, segundo o gabinete presidencial.
As forças russas preparam-se para um ataque a Bakhmut após uma série de contratempos no leste, bem como a Avdiikva, o que torna toda a região de Donetsk em "uma zona de hostilidades ativas", segundo o governador Pavlo Kyrylenko.
A tomada pelos russos de Bakhmut, que permaneceu em mãos ucranianas durante a guerra, abriria caminho para o Kremlin avançar para outros redutos ucranianos importantes em Donetsk, no Donbass.
Uma ofensiva revigorada no leste também pode potencialmente parar ou atrapalhar o esforço da Ucrânia para recapturar a cidade de Kherson, no sul, uma porta de entrada para a Crimeia, que a Rússia anexou da Ucrânia em 2014.