O número dois da guarda presidencial do Burkina Faso, Isaac Zida, anunciou hoje ter "assumido" as responsabilidades de "chefe de Estado" de transição, classificando ainda de "caducas" declarações semelhantes do chefe de Estado-Maior das Forças Armadas.
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O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Burkina Faso tinha revelado sexta-feira ter assumido interinamente a Presidência, depois de o chefe de Estado, Blaise Compaoré, ter anunciado a demissão para permitir a realização de eleições dentro de 90 dias.
O general Honoré Nabere Traoré, citado pelos "media" locais, asseverou que ocupará o vazio de poder deixado no país após a saída de Compaoré, com o objetivo de organizar eleições o mais rapidamente possível.
Agora, e depois do líder da oposição ter apelado a um entendimento no seio do exército para conduzir o país a um governo renovado, Isaac Zida assume os destinos do país para "assegurar a continuidade do Estado" numa "transição pacífica e democrática".
O anuncio foi efetuado num discurso transmitido pela televisão.
O Burkina Faso viveu esta semana uma grave crise sociopolítica depois da decisão de Compaoré de promover uma alteração constitucional que lhe permitiria continuar na chefia do Estado, a que acedeu em 1987, na sequência de um golpe de Estado em que morreu o Presidente Thomas Sankara.
Compaoré justificou a sua demissão com "a degradada situação sociopolítica e a ameaça de divisão dentro do Exército", depois das grandes manifestações de cidadãos e da oposição exigindo a sua demissão.
Quando tomaram conhecimento de que Traoré assumirá a Presidência de transição, muitos manifestantes que continuam nas ruas da capital, Ouagadougou, começaram a gritar "Fora o chefe de Estado-Maior!" e repetiram o nome do general na reserva Kouame Lougué, que querem que tome conta da situação, indicou o portal de notícias Burkina24.
Os protestos contra Compaoré arrancaram na passada quarta-feira, quando milhares de pessoas se manifestaram em Ouagadougou, repetindo "Vinte e sete anos é suficiente!", numa referência ao número de anos no cargo do Presidente demissionário.
As manifestações cresceram e intensificaram-se na quinta-feira, em todo o país, especialmente na capital, onde se gerou o caos quando centenas de pessoas assaltaram e incendiaram o parlamento em protesto contra a votação da alteração constitucional que permitiria a Compaoré prolongar o seu mandato.
Desde a sua independência de França, em 1960, até à chegada de Compaoré à Presidência, em 1987, a história do Burkina Faso, antes conhecido como Alto Volta, caracterizou-se por uma sucessão de golpes de Estado.