O desaparecimento de uma mulher de 33 anos quando ia para casa, em Londres, e que tem como suspeito um polícia, está a agitar o Reino Unido, onde 80% das mulheres admitem terem sido assediadas na rua.
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Chama-se Sarah Everard, tem 33 anos e faz esta quinta-feira oito dias que desapareceu, em Londres. Aconteceu no dia 3 de março, ao início da noite: tinha ido encontrar-se com um amigo, a casa dele, na zona sul da cidade, em Clapham, e depois tomou o caminho de regresso à sua, em Brixton. Saiu por volta das 21 horas, conversou com o namorado ao telemóvel durante 15 minutos e o telefonema terminou às 21.28 horas. Imagens de uma câmara de videovigilância colocam-na a andar sozinha em direção a casa por volta dessa hora. A pé, como se deslocava, demoraria cerca de 50 minutos a chegar de um local ao outro. Mas não chegou.
O desaparecimento motivou uma larga operação da Polícia Metropolitana de Londres, que efetuou buscas e inquéritos em centenas de casas da zona e pediu a todos os moradores ou trabalhadores da área supostamente percorrida por Sarah que permitissem o acesso às imagens das suas câmaras de vigilância ou dessem qualquer informação que pudesse ser relevante para o caso.
Polícia detido e restos mortais encontrados
Na terça-feira, numa diligência originada pelo que mostraram as imagens de um autocarro que fazia o mesmo trajeto que Sarah, as autoridades detiveram em Kent um polícia de cerca de 40 anos, com suspeitas de ligação ao desaparecimento, e uma mulher na casa dos 30, por cumplicidade (não está confirmado se serão um casal). Sobre o agente, Wayne Couzens, sabe-se que pertence a uma unidade responsável pela segurança de políticos e representações diplomáticas, que é casado, tem dois filhos e, dizem vizinhos e familiares, é "um pai de família exemplar". Estava de folga no dia do desaparecimento e, noutro caso, é suspeito de atentado ao pudor.
Inicialmente suspeito de rapto, foi também acusado de homicídio, depois de ter sido ligado à descoberta de restos mortais encontrados num bosque no sudeste de Londres, na quarta-feira, ainda por identificar, "o que poderá demorar um tempo considerável".
Caso cria medo e leva ao reforço policial
O facto de as suspeitas recaírem sobre um polícia é "chocante e profundamente perturbador", descreveu à imprensa o comissário da Polícia de Londres Nick Ephgrave, reconhecendo "a preocupação significativa" que o caso vai provocar. Também "chocado e profundamente triste com os desenvolvimentos da investigação" se mostrou Boris Johnson, numa mensagem publicada esta quinta-feira, no Twitter, onde pediu celeridade "para encontrar todas as respostas sobre este crime horrível", já prometida pelas autoridades.
Mas o maior choque e o maior medo pertencem a quem sente o risco nas caminhadas que faz, sobretudo à noite. "Muitas mulheres partilharam as suas histórias e preocupações na Internet desde o desaparecimento de Sarah. Todas devem poder sentir-se seguras a caminhar nas nossas ruas, sem medo de serem agredidas ou vítimas de abusos", notou a ministra do Interior, Priti Patel. Embora a comissária da Polícia de Londres Cressida Dick tenha salientado a invulgaridade de um caso com estes contornos, prometeu reforçar a presença de agentes na rua.
De acordo com uma sondagem recente realizada pela empresa YouGov para a organização ONU Mulheres no Reino Unido, 80% das mulheres de todas as idades disseram terem sido vítimas de assédio sexual em locais públicos, com o número a subir para 97% na faixa etária dos 18-24 anos.