Influente nos mais profundos círculos conspiratórios, Daillet é acusado de criar um grupo extremista, com três centenas de pessoas, para invadir prédios institucionais, ocupar uma rádio ou televisão e derrubar o Governo de Macron. Um golpe destinado à reconquista da "liberdade".
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As pontas soltas revelaram um emaranhado de conspiração que deixou as autoridades em alerta. O conhecido militante francês de extrema-direita Rémy Daillet, de 55 anos, já preso pelo rapto de uma criança, estava, afinal, a preparar algo maior: um perturbador golpe de Estado para tomar o Palácio do Eliseu, com o apoio de uma grande organização paramilitar.
De acordo com fontes ligadas à investigação, Daillet - acusado de terrorismo a 22 de outubro - mobilizou dois ex-soldados, atribuindo-lhes a tarefa de treinar recrutas para uma invasão à residência oficial do presidente da República. Além disso, acionou os círculos antivacina e o movimento neonazi francês. Uma organização clandestina que tinha na agenda a ocupação de vários prédios institucionais, assim como de uma rádio ou televisão, e ataques a centros de vacinação e antenas 5G, avança a imprensa local.
Convictos de que Emmanuel Macron "está ao serviço do dinheiro" e que "é preciso acabar com o grande capital", o grupo preparava "um golpe de Estado, uma deposição do Governo", confirmaram as mesmas fontes.
Dos 300 elementos que se estima fazerem parte da conspiração, os serviços secretos franceses conseguiram identificar várias dezenas, entre agentes da polícia e militares no ativo, um advogado inscrito na Ordem de Paris e um presidente de câmara. A detenção, desde maio, de 12 pessoas ligadas à extrema-direita e denunciadas por "associação terrorista criminosa" foi essencial para as autoridades identificarem o "cérebro" do golpe, chegando a Rémy Daillet.
"Preso político" inocente
O advogado de defesa, Jean-Christophe Basson-Larbi, defendeu, na semana passada, que Daillet é "um preso político" e apenas espalhou ideais não violentos. Garantiu ainda que o seu cliente nada tem a ver com os ataques planeados, frisando que "nenhum elemento objetivo aponta para o seu envolvimento".
Antigo líder do movimento democrata MoDem em Haute-Garonne, Daillet acabou expulso do partido em 2010, tornando-se, desde então, uma figura ligada a teorias da conspiração e ideias xenófobas. Assumidamente contra o aborto, o 5G, a vacinação e cético em relação à covid-19, criou um portal intitulado "Apelo à queda do Governo francês", onde detalha 81 medidas que pretende colocar em prática. "Decidi assumir o poder em França para restaurar o país e dar-lhe liberdade", explicou num vídeo, publicado no YouTube em 2020.
Em abril deste ano, foi preso pelo rapto de uma menina de oito anos, a pedido da mãe (que estava proibida de se aproximar da filha). A criança foi encontrada na Suíça, cinco dias depois de retirada da casa da avó.