A investigadora da Universidade do Minho analisa o discurso de Vladimir Putin e antecipa que o conflito vai entrar numa fase de escalada.
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Embora não tenha falado diretamente em armas nucleares, este poderá ser o recurso a que Putin se refere quando diz que usará "todos os meios necessários" no conflito?
Não falou diretamente, mas sugeriu fortemente. Voltou a trazer à tona a possibilidade de utilização de armas nucleares e eu ligo este momento do discurso ao momento em que refere que a ajuda ocidental acaba por ser desequilibrada. Isto é um aviso de que a Rússia tem de ser levada a sério. O discurso dele, e a medida da mobilização de reservistas, é claramente uma demonstração de fraqueza, já que os objetivos da guerra não estão a ser cumpridos e isto é uma humilhação. Isto é preocupante porque Putin tenta fazer uma demonstração de força com que deixa antever uma escalada.
As novas medidas serão suficientemente coesas para fazer frente à contraofensiva ucraniana?
Há aqui a possibilidade do conflito piorar. Ainda assim, em relação aos milhares de reservistas que vão ser mobilizados, é difícil antever o que se irá passar, porque penso que não estarão bem preparados para ir para o terreno. Apesar de Putin dizer que não está a fazer bluff, não se percebe muito bem a capacidade efetiva da Rússia. A isto acresce outra coisa: grande parte dos russos estão a desaprovar a guerra de forma silenciosa.
O facto de muitos russos estarem a sair do país e de a população ter voltado a manifestar-se, leva a crer que o regime de Putin tem os dias contados?
Isto mostra que continua a haver uma parte da população que não é a favor da guerra. Não sei se isto poderá afetar a liderança de Putin, porque não se trata de uma só pessoa, mas sim de um sistema. Como tal, não diria que estas questões tenham um impacto direto na liderança de Putin, mas poderão ter um impacto direto nos objetivos da guerra.
O processo de anexação dos quatro territórios poderá ser moroso?
Vai ser tudo muito fácil. Os russos vão inventar e será tudo fictício. Ainda que criem listas eleitorais, vão fazer o que quiserem, porque não existirão observadores internacionais. Vai ser um autêntico simulacro, no qual nem precisam de pessoas reais. Podemos dar como certa a anexação dos quatro territórios. v