Um ataque contra o hospital Al-Ahli, em Gaza, chocou o Mundo. Mais de 400 pessoas perderam a vida e as imagens dos corpos espalhados dão conta do cenário de terror que a população palestiniana está a viver. O Hamas e Israel acusam-se mutuamente do bombardeamento, que está a causar uma onda de indignação internacional.
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Onde se situa o hospital Al-Ahli?
O hospital Al-Ahli situa-se entre os bairros Shujaiya e Zeitoun, na cidade de Gaza, no Norte do território palestiniano. É a única instituição hospitalar cristã da região, sendo totalmente financiada pela Igreja Anglicana, que se compromete em garantir a independência da unidade face a quaisquer fações políticas. É um dos centros hospitalares mais antigos do enclave, uma vez que foi fundado em 1882, e dá resposta a mais de 45 mil pacientes por ano. Além de gerir um programa de deteção do cancro da mama, o hospital dispõe de uma clínica comunitária gratuita que tem o objetivo de apoiar crianças desnutridas, disponibilizando ainda consultas de fisioterapia e terapia ocupacional.
Uma vez que a unidade cristã ficou em condições degradantes após o ataque, os feridos que resultaram da explosão foram levados para o hospital Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza.
O que aconteceu na noite de 17 de outubro?
Um ataque aéreo atingiu, por volta das 19 horas locais, o hospital Al-Ahli enquanto milhares de palestinianos se abrigavam no local, por considerarem que este não seria alvo de bombardeamentos. Não se sabe ao certo quantas pessoas estavam no interior da unidade médica no momento do ataque, mas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, pelo menos 471 pessoas foram mortas, enquanto outras centenas ficaram feridas. O porta-voz de tutela, Ashraf Al-Qudra, lembra que o número de vítimas deverá aumentar nos próximos dias, à medida que as equipas no terreno vão conseguindo fazer o resgate dos corpos.
Quem realizou o ataque?
Não se sabe ao certo. O Hamas acusa Israel, mas o Estado hebraico aponta o dedo à Jihad Islâmica, um grupo radical totalmente independente do Hamas, que tem forte presença na Cisjordânia.
Logo após a explosão, o Hamas divulgou um comunicado, no qual classificou o ataque como "um crime de genocídio" cometido por Israel. “O horrível massacre perpetrado pela ocupação sionista no hospital Al-Ahli da cidade de Gaza, que deixou centenas de vítimas, a maioria delas famílias, pacientes, crianças e mulheres deslocadas, é um crime de genocídio que mais uma vez revela a cara deste inimigo criminoso e do seu Governo fascista e terrorista", declarou um porta-voz do movimento islâmico.
Israel, por sua vez, foi categórico ao negar o ataque, alegando que este tinha sido consequência de um disparo falhado do grupo Jihad Islâmica. As Forças de Defesa de Israel (FDI) publicaram um vídeo em que, supostamente, um rocket cai de forma acidental junto ao hospital visado.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita também partilhou o áudio de uma alegada chamada telefónica intercetada entre dois militantes do Hamas sobre o "lançamento falhado" de um rocket. As vozes pronunciam-se sobre um disparo falhado a partir de um cemitério atrás do hospital Al-Ahli que atingiu, por erro, a unidade hospitalar em Gaza. Uma das pessoas refere que a explosão terá sido causada pelo grupo radical Jihad Islâmica.
Ainda assim, não é possível confirmar de forma independente a veracidade do vídeo e do áudio divulgados pelas autoridades israelitas.
O que diz a Jihad Islâmica sobre as acusações de Israel?
A Jihad Islâmica, grupo radical islâmico fundado por estudantes universitários de Gaza na década de 1980, descartou qualquer envolvimento no ataque e culpou Israel pela explosão que ceifou a vida de centenas de palestinianos.
Como se pode acabar com as dúvidas sobre a origem do ataque?
A única forma de se poder ter a certeza sobre quem foi o autor do crime hediondo é resgatar fragmentos de míssil que permaneçam nas imediações do hospital. De acordo com um especialista militar ouvido pela "Sky News", a recolha e análise dos detritos permitiria ter 95% de certezas sobre a orígem do foguete. O problema, segundo Michael Clarke, é que a zona é totalmente controlada pelo Hamas e uma investigação ao bombardeamento não seria isenta.
Quais foram as consequências diplomáticas da explosão?
O derramamento de sangue ocorreu numa altura em que Joe Biden, presidente dos EUA, se preparava para sair do país em direção ao Médio Oriente, numa tentativa declarada de evitar que o conflito se alastre a toda a região.
No entanto, o democrata apenas se conseguiu encontrar com Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, já que os outros líderes com os quais ia reunir decidiram cancelar as reuniões.
Indignados com a explosão no hospital, o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, o presidente do Egito, Abdel Fattah Saeed Hussein Khalil as-Sisi e o rei Abdullah II da Jordânia anunciaram que tinham decido cancelar a cimeira na qual se iam encontrar com o líder norte-americano.
Durante a visita a Televive, Biden clarificou que apoiava a versão de Israel dos acontecimentos, anunciando que irá pedir ao Congresso uma "ajuda sem precedentes".
Como reagiu a comunidade internacional?
A Jordânia e outros países árabes condenaram o ataque ao hospital, sendo que alguns estados declararam dias de luto nacional em memória das vítimas, como foi o caso da Turquia.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, alertou que atacar infraestruturas civis em Gaza "viola o direito internacional", enquanto o presidente francês, Emmanuel Macron, apelou ao acesso humanitário "sem demora" na Faixa de Gaza, acrescentando que "nada pode justificar atacar civis".
O Ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, James Cleverly, apelou às pessoas para que esperassem pelos factos em vez de tirarem conclusões precipitadas. “A cabeça fria deve prevalecer", escreveu na rede social X.
Já a Rússia e os Emirados Árabes Unidos apelaram a uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para discutir a explosão no hospital e o agravamento da situação humanitária.
O ataque causou indignação?
Sim. Em Beirute, no Líbano, os manifestantes saíram à rua e percorreram a cidade em motociclos, reunindo-se em frente à embaixada francesa em protesto contra a resposta da comunidade internacional às mortes de civis em Gaza.
Em Amã, na Jordânia, o cenário replicou-se em frente à Embaixada de Israel.