A justiça nepalesa efetuou a primeira detenção de sempre relacionada com a prática de "chhaupadi", um tabu que atinge as mulheres menstruadas do país e que dita o seu exílio em casebres ou abrigos de animais para que mantenham a impureza longe, sobretudo dos homens.
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Parwati Budha Rawat, 21 anos e recém-casada, foi encontrada morta dentro de uma barraca sem janelas, a 100 metros da casa da família, na região de Achham, zona leste do Nepal, país onde todas as latitudes ainda vão preservando a crença de que o sangue menstrual da mulher é sujo e impuro. Aconteceu no início de dezembro, quando à noite os termómetros baixam para menos de 10 graus: Parwati morreu asfixiada pelo fumo de uma fogueira que tinha acendido para se manter aquecida, na cabana onde dormia havia três noites.
A morte, a quinta noticiada este ano pelos mesmos motivos, levou, pela primeira vez desde que há registos, à detenção de uma pessoa. Um homem, cunhado da vítima, que a terá forçado a dormir fora de casa, e que ficará preso durante 25 dias antes de ser julgado. O marido da jovem, com quem casara 18 meses antes, estava na Índia a trabalhar quando o caso aconteceu, escreve o "The Guardian".
Mulheres menstruadas são consideradas impuras e devem ser isoladas, para não contaminaram pessoas e bens. Estão proibidas de entrar em casa e de tocar em fruta, plantas, carne e outras pessoas.
"Chhaupadi" - pode adotar outras designações dependendo dos locais - tem raiz no Hinduísmo, dominante no Nepal. Considera as mulheres menstruadas impuras e isola-as para não contaminarem pessoas e bens. Ficam proibidas de entrar em casa e de tocar em fruta, plantas, carne e homens. Apesar de ser ilegal no país desde 2005, a prática continua a existir no seio de muitas comunidades, especialmente na zona ocidental. Só em janeiro e fevereiro deste ano, a tradição levou à morte de quatro pessoas na região de Sudurpaschim: primeiro uma mãe adulta e dois filhos, depois uma jovem, todas vítimas de inalação de fumos.
Apesar da proibição legal, que se traduz em três meses de prisão e uma multa de três mil rupias (23,50 euros) contra o culpado, não houve qualquer condenação em 14 anos. Radha Paudel, ativista pela dignificação da menstruação e símbolo de resistência à tradição imposta, teme que a sociedade não acompanhe as leis. "O Governo está a apertar mas receio que à força não vamos a lado nenhum. A lei e o conhecimento popular sobre a dignificação da menstruação têm de andar de mãos dadas. Lei é sinónimo de poder ou força, mas não garante dignidade", disse ao JN.
A fundadora da "Radha Paudel Foundation", criada em 2017 para educar mulheres e homens para a justiça de género, paz e direitos humanos, diz que "o medo e a ignorância ainda estão muito enraizados". "Mesmo que o isolamento físico das mulheres tenha sido abolido, o isolamento mental ainda continua e continuará", acrescentou. A ativista considera por isso que a detenção recente "é um passo positivo por mostrar a implementação da lei", mas que "não é uma solução a longo termo".
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