Eleanor Williams, de 22 anos, foi condenada a oito anos e meio de prisão por ter mentido sobre ter sido violada e traficada por um gangue asiático, em Inglaterra. Em maio de 2020, a jovem publicou nas redes sociais fotos suas onde aparecia com marcas de agressão no rosto, acusou três homens de a terem violado e um deles de ser o líder de um gangue internacional de tráfico de mulheres. Era tudo mentira e a verdade soube-se agora.
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Em plena pandemia de covid-19, Eleanor Williams decidiu virar os holofotes das redes sociais e dos média para si ao revelar que tinha sido violada por três homens e vítima de tráfico humano pelas mãos de um gangue asiático. Na publicação do Facebook, a jovem contou que, além da violação, foi espancada e forçada a participar em "festas de sexo" por homens asiáticos "malvados, mas inteligentes", a maioria empresários paquistaneses. Provas? A cara desfigurada, os hematomas roxos que lhe cobriam o rosto e um dedo parcialmente amputado. Depressa conquistou a simpatia e solidariedade da comunidade da cidade de Barrow, no norte de Inglaterra, que se uniu para conseguir justiça para a Ellie (#justiceforEllie) num movimento com mais de 100 mil membros no Facebook.
A polícia do condado de Cúmbria registou 151 crimes relacionados com o caso em 2020, incluindo queixas de assédio, bem como danos materiais e ofensas à ordem pública. Naquele verão, os crimes de ódio triplicaram na região.
Quase três anos depois da revelação, a jovem, com agora 22 anos, foi condenada a oito anos e meio de prisão por ter mentido e interferido com a Justiça. Ao sentenciá-la, esta terça-feira, o juiz Altham, do tribunal de Preston, afirmou que as alegações de Eleanor eram "totalmente fictícias" e criticou-a por não mostrar "sinais significativos de remorsos", segundo o "The Guardian". A justiça conseguiu provar que os hematomas foram autoinfligidos pela jovem. Os médicos não conseguiram diagnosticá-la com nenhum distúrbio, mas acreditam que sofre de stress pós-traumático complexo como resultado de um trauma de infância.
Os três homens visados pelos delírios da inglesa foram as grandes vítimas desta teia de mentiras. Oliver Gardner falou com ela uma vez na rua e Jordan Trengove passou 73 dias em prisão preventiva, depois de ter sido acusado de violá-la e drogá-la sob ameaça de uma faca. Mas Eleanor dedicou as acusações mais loucas para um empresário de Barrow, Mohammed Ramzan, conhecido localmente como Mo Rammy. Ramzan, atualmente com 43 anos, disse ao tribunal que só esteve com a jovem uma vez, numa festa de família. No entanto, Eleanor acusou-o de ser o chefe de um gangue internacional de tráfico de mulheres, que primeiro fez sexo com ela aos 12/13 anos, e depois traficou-a juntamente com outras miúdas do noroeste da Inglaterra e do estrangeiro. Disse ter sido traficada para Amesterdão e vendida num bordel. Em tribunal, a irmão da jovem, Lucy, desmentiu isto ao revelar que as irmãs viajaram para os Países Baixos para comemorar o aniversário de 18 anos de Eleanor.
Com a verdade a nu, Trengove, Gardner e Ramzan revelaram agora que tentaram cometer o suicídio devido a estas acusações.
Durante a audiência, a jovem continuou a defender a sua inocência, mas afirmou que estava arrependida e "arrasada" pela forma como a partilha no Facebook tinha afetado e prejudicado a cidade. "Eu entendo que o seu trabalho é acreditar no veredicto do júri e tudo bem. Sei que não é desculpa, mas eu era jovem e estava confusa", escreveu ela, numa carta dirigida ao juiz.
"Não estou a dizer que sou culpada, mas sei que errei em algumas coisas e peço desculpa. Estou arrasada com os problemas que provoquei em Barrow. Se eu soubesse quais seriam as consequências, nunca teria postado nada", acrescentou.
Eleanor tinha seis telefones que usava para criar identidades falsas e para manipular as contas do Snapchat de homens reais que conheceu, para fazê-los parecer abusadores. A investigação conseguiu provar que uma conta do Snapchat, que supostamente pertencia a Trengove, um dos alegados agressores, tinha sido criada através do wi-fi da casa da família da jovem, em Barrow.
A alegada vítima deu ainda à polícia uma lista de 60 raparigas, metade de Cumbria e metade de outras regiões, que ela disse terem sido prostituídas pela gangue de Ramzan. Mas quando a polícia bateu à porta destas mulheres, elas não sabiam de nada.