
Migrantes acolhidos na Indonésia
HOTLI SIMANJUNTAK/EPA
O Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos diz estar chocado com a atitude da Tailândia, Malásia e Indonésia de repelir milhares de migrantes esfomeados, estimando em seis mil o número de pessoas em barcos à deriva.
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Zeid Ra'ad Al Hussein pediu aos três países, que várias organizações não-governamentais (ONG) acusam de um "ping-pong humano", para não agravarem a crise e acolherem os migrantes.
"Cerca de seis mil migrantes 'rohingyas' e do Bangladesh estarão bloqueados no mar, em condições precárias", afirmou.
O Alto-Comissário elogiou a decisão da Indonésia de autorizar a entrada de 582 migrantes no domingo e a da Malásia de permitir o desembarque de 1.018 no dia seguinte, mas sublinhou que, depois disso, outros barcos foram repelidos.
"Estou chocado com as informações segundo as quais a Tailândia, a Indonésia e a Malásia estão a repelir barcos cheios de migrantes vulneráveis, o que inevitavelmente vai provocar mortos", disse.
"Temos de nos concentrar na forma de salvar vidas, não de as pôr em perigo", acrescentou.
Centenas de migrantes foram socorridos esta sexta-feira ao largo da Indonésia, depois do naufrágio de uma embarcação com 712 pessoas a bordo que tinha sido repelida pela Malásia, mas as expectativas de chegar a uma solução para a crise foram frustradas pela Birmânia, que ameaçou boicotar uma cimeira regional sobre a questão organizada pela Tailândia.
Há vários dias que as organizações internacionais afirmam que milhares de migrantes estão à deriva no mar depois de terem sido abandonados pelos traficantes.
Os migrantes são sobretudo oriundos do Bangladesh, de onde fogem da pobreza, e da Birmânia, onde a minoria muçulmana 'rohingya' é perseguida.
Dezenas de milhares de migrantes transitam todos os anos pelo sul da Tailândia, ponto de passagem para a Malásia, mas Banguecoque declarou recentemente guerra aos traficantes, interrompendo as rotas habituais de passagem de migrantes, depois de ter encontrado valas comuns com corpos de clandestinos em plena selva, de acordo com várias ONG.
A Indonésia e a Malásia receiam um agravamento da situação e anunciaram que, a partir de agora, vão recusar a entrada de todas as embarcações de migrantes, condenando os passageiros a uma prisão flutuante.
Milhares de pessoas à deriva no mar
Na quinta-feira, ao início da tarde, um barco com cerca de 300 pessoas, de etnia rohingya, estava à deriva no Mar de Andaman, perto da costa tailandesa, com homens, mulheres e crianças a apelarem "à ajuda", constataram os jornalistas da AFP no local.
"Cerca de 10 pessoas morreram na viagem. Lançámos os corpos à água", gritou em rohingya um dos migrantes aos jornalistas, que estavam num barco nas proximidades.
"Estamos no mar desde há dois meses. Queremos ir para a Malásia, mas não conseguimos chegar ao país", acrescentou.
No barco, foi colocada uma bandeira negra, na qual foi escrito em Inglês: "Somos Rohingyas da Birmânia".
"Não comemos há uma semana, não há sítio para dormir e os meus filhos estão doentes", afirmou uma jovem mãe, com quatro filhos, com idades entre dois e oito anos, aos jornalistas da AFP.
