Até agora, a participação indireta da Bielorrússia no conflito da Ucrânia representava só vantagens para a Rússia, mas o ataque inesperado a um dos mais importantes aviões militares de Putin, pelas mãos dos opositores do regime de Lukashenko, em solo bielorrusso, representa um prejuízo avaliado em mais de 300 milhões de euros.
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A base aérea de Machulishchy, na Bielorrússia, tem servido de "abrigo" para várias aeronaves militares russas. Mas a segurança do ponto estratégico para a operação de Putin foi posta em causa, no domingo de manhã, quando dois drones danificaram um dos mais caros aviões do arsenal russo, o Beriev A-50.
Inicialmente o ataque foi imputado às forças ucranianas, mas acabou por ser reivindicado pelo grupo anti-governamental bielorrusso BYPOL. "Um dos nove Beriev A-50 das forças russas no valor de 330 milhões de dólares [cerca de 310 milhões de euros] foi danificado", escreveu o grupo numa publicação do Telegram. "Os participantes da operação eram bielorrussos e estão agora em segurança fora do país".
Segundo Aliaksandr Azarov, líder dos BYPOL, o avião foi atingido por munições largadas por dois drones, que atingiram a zona do cockpit e a região do radar, no centro do avião. Os danos não foram confirmados de forma independente, embora tanto os bloggers militares russos como bielorrussos tenham relatado explosões no domingo na base aérea, a 12 quilómetros da capital do país, de acordo com o "The Guardian".
Os Beriev A-50 representam tecnologia antiga, mas crucial para o sucesso de qualquer operação militar. São capazes de detetar quando os sistemas de defesa aérea são ativados e onde, a longa distância. Com capacidade para rastrear até 60 alvos de cada vez, em termos gerais, estes "ferraris dos ares" são utilizados para detetar aeronaves, navios e mísseis que chegam a longa distância e vigiar o "campo de batalha". A produção destes modelos terminou em 1992 e estima-se que neste momento existam apenas nove no ativo.
À agência Reuters, Azarov revelou que a operação tinha levado vários meses a planear e que os "partidários" iriam procurar realizar mais ações deste género no futuro."Trabalhamos, continuando a nossa batalha contra os ocupantes russos no território da Bielorrússia e contra o regime criminoso de (presidente Alexander) Lukashenko que se apoderou ilegalmente do poder", acrescentou.
O grupo BYPOL, formado em outubro de 2020, é composto por cidadãos bielorrussos ligados às forças de segurança do país, que se opõem ao regime de Lukashenko e querem restaurar o regime democrático na Bielorrússia com Svetlana Tikhanovskaya. Minsk já os classificou como uma organização terrorista.
"Esta é manobra de distração mais bem-sucedida desde o início de 2022", escreveu Franak Viačorka, um conselheiro do líder da oposição bielorrussa, Sviatlana Tsihanouskaya, numa publicação no Twitter. "Dois bielorrussos conduziram a operação. Utilizaram drones para esta operação e já deixaram o país e estão agora em segurança", sublinhou. Sviatlana também se pronunciou, afirmando estar orgulhosa dos bielorrussos que "continuam a resistir à ocupação russa da Bielorrússia e a lutar pela liberdade da Ucrânia".
GLORY TO BELARUSIAN PARTISANS!
- Franak Viačorka (@franakviacorka) February 26, 2023
Partisans from the "Pieramoha" (Victory) plan confirmed a successful special operation to blow up a rare Russian plane at the airfield in Machulishchy near Minsk. This is the most successful diversion since the beginning of 2022. pic.twitter.com/4Q6UmmvylT
I am proud of all Belarusians who continue to resist the Russian hybrid occupation of Belarus & fight for the freedom of Ukraine. Your brave actions show the world that Belarus stands against imperial aggression. Glory to our heroes! https://t.co/cechjiHolb
- Sviatlana Tsikhanouskaya (@Tsihanouskaya) February 26, 2023
Tanto o Kremlin como a Bielorrússia ainda não se pronunciaram sobre o ataque. Quando questionado pelos jornalistas sobre a veracidade do incidente, esta segunda-feira, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, garantiu não ter nada para dizer sobre o assunto.