Os receios de uma investida russa em larga escala na primavera levam Kiev a pressionar os países aliados a fornecerem armamento ofensivo, como tanques de guerra e canhões. A primeira abordagem, durante uma reunião do Grupo de Contacto de Defesa para a Ucrânia, esta sexta-feira, na base norte-americana de Ramstein, na Alemanha, foi negativa. Para já, não há os desejados tanques alemães Leopard 2 ou franceses Leclerc, muito menos os norte-americanos Abrams. Mas os CV90 suecos, mais leves, e os "invencíveis" Challenger britânicos estão prometidos.
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A Ucrânia tem recursos limitados de tanques de guerra, a maioria dos quais de fabrico soviético, e precisa de apoio externo, para se preparar para a ofensiva russa de primavera. A convicção Ocidental de que a guerra, iniciada com a invasão de 24 de fevereiro, acabará se a Rússia for derrotada na Ucrânia, em ações de contraofensiva ucraniana para recuperação do território, joga a favor das pretensões de Kiev de ter apoio de armamento ofensivo pesado para fazer frente aos russos.
Kiev pede apoio de artilharia pesada e tanques de guerra ao ocidente. Os mais desejados são os norte-americanos Abrams, apodados de mais evoluídos tecnologicamente no mundo, e os fiáveis Leopard, de fabrico alemão. Mas há também veículos militares de fabrico francês, Leclerc, e britânico, Challenger, já anunciados pelo governo de Londres. São os chamados tanques principais de batalha (na tradução literal de Main Battle Tanks, MBT).
Os MBT são veículos blindados com armaduras capazes de resistir a diversos tipos de munições inimigas, com alcances que vão dos 320 aos 550 quilómetros, e velocidades máximas de 70 km/hora. Estas máquinas de guerra pesam entre 55 e 65 toneladas e estão equipadas com armamento variado. A característica mais visível de todos os tanques, além das lagartas para circular em todos os terrenos, é o canhão principal, que nestes modelos é de 120 milímetros.
São certamente melhores que qualquer coisa que a Rússia tenha"
Em termos tecnológicos, estão equipados com câmaras térmicas, que permitem "ver" o campo de batalha mesmo em condições adversas, e computadores de bordo que recolhem e transmitem informações em tempo real. "O papel dos tanques é penetrar nas defesas inimigas", resumiu Marc Chassillan, engenheiro e especialista em equipamentos militares, citado pelo jornal francês "Le Monde". Os britânicos dizem que o Challenger 2 nunca foi derrotado em campo de batalha e acreditam que os russos T-72 não estão à altura das máquinas de sua Majestade.
"O Challenger 2 foi desenhado para fazer o trabalho que os ucranianos precisam", defende Justin Crump, CEO da empresa de inteligência Sibylline. Ex-militar, com serviço em unidades de tanques, considera que os MBT Ocidentais são superiores aos fabricados pela Rússia. "São certamente melhores que qualquer coisa que a Rússia tenha, porque tudo o que foi fabricado durante a Guerra Fria - Challenger 2, Leopard 2, M1 Abrams - todos estes veículos foram desenhados para serem substancialmente melhores do que o equivalente russo", acrescentou.
"Os tanques ocidentais foram desenvolvidos entre o fim de 1970 e o início de 1990, no pico da Guerra Fria. Desde o início que o objetivo era destruir os tanques russos e ter superioridade tática e operacional", concorda Chassillan. "Disparam muito melhor, mais depressa e mais longe", acrescentou aquele especialista francês ao "Le Monde".
O tanque alemão Leopard 2
Fabricado na Alemanha inicialmente em 1979, o Leopard 2 é um tanque equipado com um canhão de 120 mm e duas metralhadoras rotativas. Com um alcance de 500 quilómetros, pode deslocar-se a uma velocidade máxima de 68 km/hora. É um tanque muito comum na Europa, em serviço em vários países do Velho Continente, em Estados como a Polónia e Finlândia, por exemplo, mas também no Canadá. É um veículo bastante testado em ambiente de guerra, tendo sido usado no Kosovo, na Bósnia, no Afeganistão e na Síria.
Abrams M1A2, o melhor da América
O Abrams M1A2, aprovado para fabrico em 1990, é a evolução o M1A1 e considerado o tanque de guerra mais moderno do mundo. De aparência semelhante ao predecessor, tem como principais diferenças o redesenho da Estação de Comando de Armamento (CWS, na sigla original de Comand Weapon Station) e o Comando de Visão Térmica. Equipado com um canhão de 120 mm e duas metralhadoras rotativas, está equipado com um motor de jato de 1500 cavalos, que gasta cerca de 8,5 litros de combustível por quilómetro. Com um alcance de 426 quilómetros, pode atingir uma velocidade máxima de 67 quilómetros por hora.
Apesar das parecenças com o predecessor, o M1A2 foi completamente reformulado por dentro, de forma a acomodar melhor uma tripulação de quatro elementos e aproveitar de forma mais eficiente as novas tecnologias incorporadas. Entre os melhoramentos, destaque para o Sistema de Informações Inter-veículos (IVIS, na sigla do original Inter-Vehicle Information System), que permite a troca automática e continuada de informações entre as viaturas. O sistema de Posição/Navegação (POSNAV) rastreia a localização e o progresso dos carros de combate e atribuiu tarefas automaticamente. Segundo o site da especialidade "military.com", o comando de visão térmica permite identificar alvos independentemente das condições atmosféricas e de visibilidade do campo de batalha.
O "invencível" Challenger 2
O Exército britânico argumenta que o Challenger 2 nunca foi derrotado em batalha. Com experiência de batalha em conflitos como o do Kosovo e o Iraque, "é superior a qualquer tanque russo", argumentam especialistas.
O Challenger 2 é a versão melhorada, desde os anos de 1990, do Challenger 1, tendo entrado pela primeira vez ao serviço das forças Armadas Britânicas em 1994. Com um motor de 1200 cavalos, consegue mover as 62 toneladas de metal reforçado e blindado a uma velocidade máxima de 59 quilómetros por hora, com um alcance de 547 quilómetros. Segundo a "SkyNews", está equipado com um canhão principal de 120 mm e uma metralhadora de 7.62 milímetros.
O ágil francês Leclerc
O Leclerc é considerado como o mais leve e o mais rápido dos tanques de batalha ocidentais. Com um motor de 1100 cavalos, atinge velocidades de 71 km hora (55 km fora de estrada) e tem uma autonomia de cerca de 550 quilómetros. Ágil e forte, desembaraça-se em inclinações até 60 graus e supera lombas até um metro.
Está equipado com um canhão principal de 120 mm, que, teoricamente, consegue atingir um alvo em andamento a quatro quilómetros de distância, e duas metralhadoras rotativas, uma de M2HB, de 12,7 mm, e outra de 7,62 milímetros.
A terceira geração do MBT fabricado pela francesa Nexter Systems foi batizada de Leclerc em honra do marechal Philippe Leclerc de Hauteclocque, comandante das Forças de Defesa Francesas que liderou a Segunda Divisão Armada na II Guerra Mundial. Em produção desde 1991, equipa forças armadas de França, da Jordânia e dos Emirados Árabes Unidos.
CV90, o sueco ligeiro em constante evolução
O Suécia anunciou a doação de 50 Carros de Combate Type 90 (CV90) e canhões automobilizados Archer. O CV90 é um veículo de combate fabricado pela Suécia desde 1980/90, que tem beneficiado de continuadas evoluções, particularmente ao nível tecnológico e do desenho, para melhor responder às mudanças no campo de batalha. A versão mais comum desde veículo, que não é um MBT, está equipada com um canhão automático Bofors de 40 mm, enquanto os modelos de exportação podem ter torreões armados com canhões MK44 de 30 mm ou Bushmaster de 35 mm, segundo o site especializado "armyrecognition".
Com um alcance máximo de 320 quilómetros, foi o primeiro tanque a incorporar tecnologia de suspensão da Fórmula 1 para melhor, e mais rápido desempenho, nas lombas e inclinações do campo de batalha, podendo circular a uma velocidade máxima de 70 quilómetros por hora.