O Papa Francisco defende que armar a Ucrânia pode ser aceitável caso "as condições de moralidade sejam cumpridas", mas considerou, no entanto, que é necessário "dialogar" com "todos", numa referência à Rússia.
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O sumo pontífice apontou para a noção de "moralidade" quando questionado, no regresso de uma visita de três dias ao Cazaquistão, sobre a necessidade de fornecer armas a Kiev.
"É uma decisão política que pode ser moral, moralmente aceite, se as condições de moralidade forem atendidas", sublinhou, durante uma conferência de imprensa a bordo do avião que regressava a Roma.
Francisco alertou que a decisão pode "ser imoral se for feita com a intenção de causar mais guerras ou vender mais armas, ou para livrar de armas que não servem mais".
Defender-se não é apenas lícito, mas é também uma expressão de amor à pátria
"A motivação é o que qualifica em grande parte a moralidade desse ato", sublinhou, citado pela agência France-Presse (AFP).
"Defender-se não é apenas lícito, mas é também uma expressão de amor à pátria. Quem não se defende, não ama, mas quem defende, ama", acrescentou o líder da Igreja Católica, que aproveitou para multiplicar os apelos à paz e condenar veementemente a indústria de armas.
O Papa Francisco destacou, no entanto, a necessidade de existir um diálogo "com todos", em alusão à Rússia, nação com a qual tem procurado manter uma abertura diplomática desde o início da invasão da Ucrânia.
"Acredito que é sempre difícil entender o diálogo com os estados que estão na origem da guerra. É difícil, mas não deve ser descartado. Deve ser dado a todos a oportunidade de dialogar", insistiu.
Sempre um passo à frente, mão estendida, sempre. Estamos numa guerra mundial
Descartar o diálogo com o país agressor seria fechar "a única porta razoável para a paz", lembrou.
"Sempre um passo à frente, mão estendida, sempre. Estamos numa guerra mundial", salientou o argentino, apontando ainda os múltiplos conflitos em curso, como na Síria, Moçambique, Eritreia ou Etiópia.
Questionado sobre suas próximas viagens, o Papa, de 85 anos, disse que o seu joelho "ainda não está curado", mas adiantou que está a ser considerada uma visita ao Bahrein em novembro.
O sumo pontífice também mencionou fevereiro de 2023 como uma possível data para uma visita à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, agendada para julho, mas adiada devido aos problemas no joelho.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,2 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).