Ao JN, o cirurgião Carlos Magalhães explica que o pós-operatório não está isento de perigo, mas visita a Portugal não deverá estar em causa. Intervenção ocorreu "sem complicações".
Corpo do artigo
Pela segunda vez este ano, o Papa deu, esta quarta-feira, entrada no Hospital Gemelli, em Roma, onde foi operado a uma hérnia incisional encarcerada por risco de obstrução intestinal. Em comunicado, o Vaticano informou que a intervenção, que demorou três horas, decorreu "sem complicações", mas vai obrigar a "vários dias de hospitalização".
Ao JN, Carlos Magalhães, cirurgião-geral do Hospital de Santo António, explica que, apesar de se tratar de um procedimento simples, "são sempre cirurgias de risco para pessoas idosas", sobretudo no caso do pontífice, que já conta com "patologias associadas". Ainda assim, a recuperação, antevê o médico, deverá demorar no máximo três semanas.
A intervenção cirúrgica do chefe da Igreja Católica tratou-se, de acordo com fontes da Santa Sé, de uma laparotomia com cirurgia plástica da parede abdominal realizada por via laparoscópica, de modo a reparar a hérnia que se formou sobre uma antiga cicatriz abdominal e que ameaçava causar obstrução intestinal - um bloqueio que, nos casos mais graves, "pode mesmo levar à morte", esclarece Carlos Magalhães, lembrando que o pós-operatório não está livre de riscos, já que podem "surgir infeções ou outras complicações".
Jornada estará segura
Outra das preocupações levantadas está relacionada com a administração da anestesia geral. Apesar de os métodos clínicos estarem cada vez mais evoluídos, salienta o médico, trata-se de "um paciente idoso, o que acrescenta sempre algum risco". Ainda assim, Carlos Magalhães clarifica que este é "um mal menor, porque este tipo de cirurgia não poderia ser evitada, daí ser realizada com urgência", já que causa desconforto e dor ao paciente.
Francisco está agora instalado no apartamento do Hospital Gemelli e ainda não há previsão de quando terá alta médica. Também não foram revelados detalhes sobre a cirurgia. O cirurgião-geral refere que, dependendo do tamanho da hérnia em causa, poderá ter sido "necessário colocar uma rede ou até retirar um bocadinho do intestino", o que, a ter acontecido, não será nada de novo para o pontífice. Em julho de 2021, o Papa passou dez dias internado, depois de remover 33 centímetros do intestino grosso.
Tendo em conta que, se tudo correr bem, a recuperação não se deverá prolongar por muito tempo, e o Vaticano só suspendeu a agenda do Papa até dia 18 de junho, Carlos Magalhães não observa qualquer indício que comprometa a vinda do Papa à Jornada Mundial da Juventude. "Dois meses são o suficiente para recuperar. Se não houver nenhuma complicação, não há razões para o pontífice não visitar Portugal", afiança.