Paris foi pioneira no aluguer de trotinetas elétricas mas está prestes a bani-las
Os residentes de Paris vão votar, no domingo, num referendo sobre a proibição do aluguer de trotinetas elétricas nas ruas da capital francesa.
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Paris foi uma das primeiras cidades a adotar as trotinetas que podem ser alugadas através de aplicações como a Lime, Dott ou Tier e que são populares entre os jovens como alternativa aos transportes públicos para percorrer distâncias curtas.
Após uma introdução caótica das trotinetas em 2018, as autoridades da cidade parisiense apertaram progressivamente os regulamentos, criando zonas de estacionamento, limitando a velocidade máxima e restringindo o número de operadores. No entanto, a controvérsia continua, com várias queixas de condução imprudente e uma série de acidentes fatais.
A autarca de Paris, Anne Hidalgo, sob pressão por causa da violação de regras nas estradas da capital, anunciou o referendo em janeiro para resolver a questão sobre se o aluguer de trotinetas deveria ser permitido. Para Hidalgo, as trotinetas são "fonte de tensão e preocupação" na vida dos parisienses.
O ministro dos Transportes, Clement Beaune, prevê que o referendo resulte numa proibição, enquanto algumas operadoras temem um resultado negativo, a menos que os utilizadores, na sua maioria jovens, votem.
Paris tem um total de 15 mil trotinetas operadas pelas empresas Lime, Dott e Tier. Em setembro, a capital já ameaçou os três operadores com a não renovação das licenças, que expiram em março, caso não limitassem a condução imprudente e outros "desvios". Em novembro, os operadores apresentaram uma série de melhorias sugeridas, incluindo equipar as trotinetas com placas que permitiriam a monitorização mais fácil de passageiros num semáforo vermelho ou a viajar em pares em veículos individuais - ambas violações comuns.
São realizadas todos os dias cerca de 100 mil viagens em trotinetas alugadas em França. O referendo não vai afetar as trotinetas elétricas de propriedade privada. Foram vendidas, no ano passado, 700 mil trotinetas em todo o país, segundo dados do Ministério dos Transportes.
"Tenho medo" das trotinetes
Nas ruas da capital, o assunto provoca debate. "As trotinetes tornaram-se o meu maior inimigo. Tenho medo delas", disse Suzon Lambert, uma professora de 50 anos. "Paris tornou-se uma espécie de anarquia. Já não há espaço para pedestres".
Por seu lado, Mathilde Caruso, uma designer gráfica de 31 anos, deseja que continuem a ser permitidas "porque é um meio de transporte vital para muitas pessoas".
O referendo causa preocupação nas operadoras, que consideram que a proibição pode levar outras cidades a seguir o exemplo. "Há uma tendência para usar estes veículos e essa tendência começou em Paris, que foi pioneira", disse Hadi Karam, gestor francês da operadora Lime. "Hoje todos já estão convencidos e Paris está a decidir dar um passo na outra direção. É incompreensível para nós".