Manifestações intensificaram-se ao oitavo dia, altura em que a comissão parlamentar mista aprovou o texto que abre caminho para o escrutínio.
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Milhares de franceses voltaram, esta quarta-feira, a sair às ruas das principais cidades para protestar contra a reforma das pensões que o Governo quer fazer avançar. Ao oitavo dia de manifestações, que em Paris desencadearam confrontos violentos com a polícia, levando à detenção de pelo menos 22 pessoas, a comissão parlamentar mista, constituída por 14 senadores e deputados, aprovou, com dez votos a favor e quatro contra, o texto que será, esta quinta-feira, votado no Senado e na Assembleia Nacional. Em dúvida está uma maioria na câmara baixa do Parlamento, que, caso não se confirme, poderá obrigar a primeira-ministra Elisabeth Borne a dar luz verde à lei sem o aval dos parlamentares.
Para aprovar o texto que, entre outras medidas, prevê o aumento da idade da reforma de 62 para 64 anos, a coligação de partidos de centro que apoia Macron e o Governo são necessários 287 votos a favor na Assembleia Nacional. No entanto, como o Executivo apenas conta com 250 deputados, corre o risco de não ver a lei ser validada devido a eventuais abstenções e votos contra. Com as recentes negociações, as forças do presidente podem contar com a Direita, porém, nem todos os votos serão favoráveis.
A coligação de extrema-direita Rassemblement National (União Nacional) antecipou no Twitter que irá votar contra o texto aprovado pela comissão parlamentar mista, tendo em conta "a surdez de um Governo que se recusa a ouvir o desafio e à ampla rejeição popular de uma decisão injusta e inútil". Os deputados especificaram ainda que vão utilizar "todos os meios regulamentares e constitucionais ao dispor para contrariar o texto".
"Ataque à democracia"
Caso as contas do Executivo não levem à aprovação da reforma que está a causar uma tensão social sem precedentes, caberá a Elisabeth Borne fazer uso do artigo 49.3º da Constituição francesa, que prevê a possibilidade de aprovar uma lei sem voto no Parlamento, mesmo antes do escrutínio, algo que o Governo deverá tentar evitar ao máximo. A única forma de impedir a adoção do artigo é os deputados apresentarem e aprovarem uma moção de censura contra o Executivo.
Além da insatisfação geral que, de resto, já se tem feito sentir ao longo das últimas semanas, os franceses contestam a possibilidade do Governo empregar o artigo excecionalmente, considerando a opção como um "ataque à democracia", referem vários órgãos de comunicação gauleses. Uma sondagem publicada no jornal "Le Figaro" indica que 74% dos franceses considerariam "inaceitável" uma possível ativação do artigo, o que poderia, de acordo com os sindicatos, levar a uma proliferação dos protestos.
Segundo a Confederação Geral do Trabalho (CGT), cerca de 1,7 milhões de pessoas manifestaram-se esta quarta-feira em todo o país, contudo, o balanço do Ministério do Interior indica 480 mil manifestantes. Ainda assim, recorda o diário "Le Monde", ambas as estimativas são superiores às registadas a 11 de março, altura em que a CGT contabilizou pouco mais de um milhão de manifestantes e a Tutela verificou 368 mil indivíduos em protesto. O dia mais intenso de contestação ocorreu a 7 de março.