O Nova Democracia (ND) chega a este domingo como favorito nas sondagens, porém, sem a perspetiva de formar um novo Governo, já que não quer alinhar em coligações. Na disputa pelas 300 cadeiras do Parlamento grego, o mais esperado é que o partido de Direita, à frente do Governo desde 2019, arrisque uma nova eleição, em junho ou julho, para usufruir do regresso do sistema eleitoral semiproporcional, que atribuirá 20 assentos de bónus ao primeiro colocado. O risco é a hipótese de uma coligação entre os diversos partidos de Esquerda, encabeçada pela Syriza - algo que parece improvável, por enquanto.
Corpo do artigo
"O ND prefere governar de forma independente", afirmou ao JN Akis Kossonas, jornalista grego do semanário "Realnews" e do portal "TVXS". "Se houver a possibilidade de formar um Governo na noite de domingo, 21 de maio, eles vão miná-la ou não a aproveitarão", disse o também analista político. O sistema proporcional simples desta eleição foi aprovado pelo Executivo do Syriza, em 2016, acabando com o bónus de 50 assentos para o partido com mais deputados eleitos. O Nova Democracia, do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, aprovou um novo método semiproporcional em 2020, com um acréscimo de 20 assentos para o vencedor. Esta nova regra começa a valer no próximo escrutínio, que pode ocorrer no verão.
Mitsotakis arrisca a entrega do poder ao Syriza, liderado por Alexis Tsipras, que governou os helénicos entre 2015 e 2019. Os dois partidos aparecem muito próximos nas últimas sondagens, com uma leve vantagem de cerca de cinco pontos percentuais para o ND, que tem por volta de 35%. No entanto, Kossonas apontou para a possibilidade de o Syriza ficar em primeiro lugar hoje, ou em segundo com uma votação muito renhida. Para conquistar o eleitorado, Tsipras pede uma segunda chance, agora sem a presença da troika. "O Syriza tenta argumentar dizendo que o crescimento económico é artificial e, se o ND vencer novamente, veremos quão duras serão as medidas que tomarão contra a classe média e os trabalhadores", salientou o jornalista.
comunistas citam geringonça
O cenário de coligação com o Syriza é improvável, já que o apoio da terceira força política, composta pelos sociais-democratas do Pasok-Kinal, é incerto. Mesmo com a cooperação desta aliança de centro-esquerda, Tsipras poderá precisar de mais apoios, como o do MeRA25 e do Partido Comunista da Grécia (KKE, na sigla em grego) - que já se negaram a participar numa possível coligação progressista. "O KKE foi consistentemente negativo e o secretário-geral Dimitris Koutsoumpas disse, de forma característica, que vimos o que aconteceu com os camaradas portugueses que apoiaram o Governo de [António] Costa [a chamada Geringonça, de 2015 a 2019]. Eles arrependeram-se, perderam o poder nas eleições seguintes", destacou Kossonas.
Numa disputa em que Mitsotakis considera estar em causa "a estabilidade ou o caos", o ND utiliza como argumento eleitoral os aumentos dos salários e o crescimento económico dos últimos anos, tendo a Grécia deixado, no verão de 2022, o estatuto de "vigilância reforçada" da Comissão Europeia. A retoma do turismo, a atribuição de fundos europeus pós-pandemia e diversas privatizações massivas são exibidas como vitórias pelo primeiro-ministro, que evita falar sobre a taxa de desemprego de 24% dos jovens com menos de 25 anos.
Um tema que parece não afetar o partido do Governo é o acidente de comboio, em fevereiro, em que 57 pessoas morreram e que, nesta semana, resultou na abertura de um processo coletivo contra Mitsotakis e outros governantes. Segundo Kossonas, as sondagens indicam que o ocorrido "não tem um papel tão decisivo nas opções dos eleitores como parecia que teria".