A Amnistia Internacional (AI) denunciou esta sexta-feira que pelo menos dez pessoas, incluindo crianças, morreram no sudeste do Irão depois das forças de segurança terem disparado contra um grupo de manifestantes na província de Sistão-Baluchistão.
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"A AI está profundamente preocupada com o novo derrame de sangue após o corte da Internet e informa que mais forças de segurança foram enviadas de Zahedan para Kash", destacou esta organização não-governamental (ONG) numa publicação das redes sociais.
De acordo com imagens e relatos de testemunhas recebidos desde Cash, na província de Sistão-Baluchistão, desde as 14:00 (11:00 em Lisboa) as forças de segurança dispararam munições contra "manifestantes pacíficos", sublinhou a AI, que divulgou vídeos dos incidentes.
Zahedan, capital do Sistão-Baluchistão, é um dos epicentros dos protestos contra as autoridades iranianas que eclodiram há quase dois meses, após a morte de Mahsa Amini em 16 de setembro, três dias depois de ter sido detida em Teerão pela chamada 'polícia dos costumes', que a acusou de violar o rígido código de indumentária, que inclui o uso do véu em público.
O clérigo xiita e imã Sayad Shahraki da mesquita Mulay Motaqian foi morto esta sexta-feira a tiro por um grupo de homens armados na cidade de Zahedan, revelou o chefe de polícia daquela província, Sardar Ahmad Taheri.
Shahraki, um dos principais representantes da comunidade xiita numa cidade predominantemente sunita e balúchi, foi baleado na cabeça e no peito.
Os suspeitos fugiram e os serviços médicos não conseguiram salvar a vida do líder religioso, segundo o chefe de polícia, citado pelo portal de notícias reformista iraniano Entejab.
Zahedan foi palco de uma violenta repressão em 30 de setembro, na qual as forças de segurança mataram 92 pessoas, incluindo 12 crianças, segundo organizações civis.
Os protestos na cidade começaram depois da violação, em junho, de uma menina balúchi por um polícia, tendo-se alastrado depois com a morte de Amini em 16 de setembro.
Quatro membros das forças de segurança também foram mortos em 30 de setembro, dia que ficou conhecido como Sexta-feira Negra de Zahedan e que levou à demissão imediata de agentes de segurança por uso de força excessiva contra manifestantes.
A escala dos protestos, descritos como motins pelas autoridades iranianas, não tem precedentes no Irão desde a revolução islâmica de 1979.
Dezenas de pessoas, sobretudo manifestantes, mas também membros das forças de segurança, foram mortas desde o início do protesto, segundo as autoridades. Centenas de outras pessoas, incluindo mulheres, foram presas.