Pintura roubada por nazis recuperada uma semana após ser vista num anúncio imobiliário
As autoridades argentinas recuperaram uma obra de arte do século XVIII roubada há mais de 80 anos pelos nazis a um negociante judeu, em Amesterdão, uma semana após a pintura ter sido identificada por acaso num anúncio de venda de um imóvel na Argentina.
Corpo do artigo
Trata-se do Retrato de uma Dama, Condessa Colleoni, realizado pelo retratista barroco italiano Giuseppe Ghislandi. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi roubado ao negociante de arte judeu holandês Jacques Goudstikker.
O anúncio, publicado pela imobiliária Robles Casas & Campos, foi identificada pelo jornal holandês "AD", numa foto de uma casa à venda na estância balnear de Mar del Plata em Buenos Aires. A pintura foi vista pendurada na sala de estar da casa, por cima de um sofá verde.
Após o anúncio da descoberta, na segunda-feira, o procurador federal Carlos Martinez ordenou uma busca à residência, na terça-feira. Contudo, a pintura tinha desaparecido. Foram ainda apreendidas armas de fogo durante a operação. "A pintura desapareceu. Apenas foram apreendidos uma carabina e um revólver", disse o procurador aos jornalistas no local.
Na quarta-feira, a obra foi entregue ao sistema judicial argentino por Patricia Kadgien, filha do falecido "mago das finanças" da organização paramilitar nazi SS, Friedrich Kadgien. Patricia Kadgien e o marido encontram-se desde terça-feira em prisão domiciliária.
No final da segunda guerra, vários oficiais nazis de alto escalão fugiram para a América do Sul. Friedrich Kadgien foi um deles. Fugiu dos Países Baixos em 1946, primeiro para a Suíça, depois para o Brasil e, finalmente, para a Argentina, onde teve duas filhas. Friedrich Kadgien desempenhou um papel significativo no desvio de bens e capitais obtidos pelo nazismo para a América do Sul. Acredita-se que a pintura o tenha acompanhado e permanecido na posse da família após a morte, em Buenos Aires, em 1978. O retrato fazia parte de mais de mil obras de arte roubadas pelos nazis a Goudstikker.
Os procuradores alegam que o casal Kadgien tentou ocultar a pintura roubada. Ambos enfrentam hoje, dia 4, uma audiência sob suspeita de ocultação e obstrução da justiça. O jornal do Reino Unido "The Guardian" contactou os representantes legais da família, que se recusaram a pronunciar sobre o assunto.
O jornal holandês "AD" conseguiu localizar a pintura ao fim de uma investigação de vários anos, que teve uma reviravolta decisiva na semana passada, quando um dos seus repórteres encontrou a casa dos Kadgien num anúncio online da venda de um imóvel na cidade costeira de Mar del Plata, em Buenos Aires.
As buscas revelaram ainda duas outras pinturas que especialistas acreditam que pertençam do século XIX, além de vários desenhos e gravuras. A Justiça está a analisar as obras para determinar se também terão sido furtados durante a Segunda Guerra Mundial. Os herdeiros de Goudstikker planeiam reclamar a pintura, informou o jornal AD.