Pista nas redes sociais "apanhou" português suspeito de matar professor do MIT e duas pessoas em Brown

Foto: Procuradoria-Geral de Providence
O português suspeito de ser o responsável pelo massacre na Universidade Brown e pelo assassinato do professor do MIT, também português, Nuno Loureiro, foi identificado graças a uma denúncia numa publicação no Reddit.
A 13 de dezembro, o suspeito de 48 anos, que estudou física na Universidade de Brown, invadiu a instituição da Ivy League em Rhode Island, onde os alunos faziam provas, e abriu fogo, matando dois e ferindo nove. As vítimas mortais foram identificadas como sendo Ella Cook, vice-presidente da associação do Partido Republicano da Universidade Brown, e Mukhammad Aziz Umurzokov, natural do Uzbequistão, que sonhava em tornar-se neurocirurgião. Seis dos feridos permaneciam hospitalizados em condição estável, e três já tinham recebido alta, informou a reitora da universidade, Christina Paxson, num comunicado divulgado na noite de quinta-feira.
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O caso tomou um novo rumo quando uma testemunha disse ter visto o suspeito a abrir um Nissan Sedan cinzento com matrículas da Florida, estacionado atrás da Sociedade Histórica de Rhode Island, próximo ao prédio da Barus & Holley, onde ocorreu o tiroteio. "Estou a falar muito a sério. A polícia precisa de investigar um Nissan cinzento com matrículas da Florida, possivelmente um carro alugado", lê-se.

Posteriormente, de acordo com a "Associated Press", a polícia localizou o Nissan cinzento nas imagens das câmaras de segurança. Segundo as autoridades, as informações fornecidas pelo utilizador do Reddit "eram consistentes e corroboravam" as imagens que mostravam o suspeito com outro homem menos de duas horas antes do tiroteio. Por isso, divulgaram imagens do segundo homem para também o tentarem identificar.
"Tínhamos a foto daquele segundo indivíduo e, em menos de uma ou duas horas, essa pessoa apresentou-se a dois agentes de Providence. Ele resolveu o caso de forma decisiva", disse o procurador-geral de Rhode Island, Peter Neronha, durante uma conferência de imprensa na quinta-feira.
A testemunha, identificada apenas como John, disse que viu o suspeito pela primeira vez nas casas de banho do edifício Barus & Holley por volta das 13.45 horas locais. Quando o suspeito saiu do edifício, John seguiu-o até ao estacionamento onde estava o Nissan. O denunciante aproximou-se do carro e viu "duas bolsas tipo pochete no chão traseiro do lado do passageiro". Depois, continuou a seguir o suspeito que começou a fugir. Quando John alcançou o homem, perguntou-lhe porque é que estava "a dar voltas ao quarteirão". O suspeito acusou John de "o assediar" e aproximou-se do carro, altura em que a testemunha se foi embora.


O tiroteio ocorreu menos de duas horas depois deste momento. A universidade enfrentou vários interrogatórios, inclusive do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre os sistemas de segurança, após ter sido descoberto que nenhuma das 1200 câmaras de segurança estava ligada ao sistema de vigilância da polícia.
Carro alugado levou ao suspeito
O carro visto nas imagens, localizado graças à publicação de John no Reddit, levou os detetives a uma empresa de aluguer de veículos em Boston, Massachusetts, onde os agentes obtiveram imagens que mostravam o rosto do suspeito e um documento que o identificava como Cláudio Neves Valente. Posteriormente, John identificou o veículo em imagens de câmaras de segurança.
A polícia também comparou as roupas que Cláudio Neves Valente usava na empresa de aluguer de carros a 1 de dezembro com as roupas usadas pelo suspeito no dia do tiroteio, a 13 de dezembro. Foi visto a usar um casaco bicolor mais clara com a mesma combinação de cores e design da pessoa retratada, sapatos pretos iguais ou semelhantes, calças pretas, uma camisa azul e óculos.

Também matou professor do MIT
A polícia informou que estava a investigar uma possível ligação entre o suspeito do tiroteio na Universidade Brown e o assassinato do professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Nuno Loureiro, de 47 anos, dois dias depois, numa cidade a 80 quilómetros ao norte de Boston. Nuno Loureiro, também de nacionalidade portuguesa, foi encontrado morto com ferimentos de bala na noite de segunda-feira. A ligação foi confirmada na conferência de imprensa de quinta-feira.
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Segundo as autoridades, após sair de Rhode Island rumo a Massachusetts, Cláudio Neves Valente colocou uma matrícula do Maine sobre a placa do carro alugado para ocultar a sua identidade.
Imagens de câmaras de segurança mostraram o suspeito a entrar num prédio próximo ao de Nuno Loureiro. Cerca de uma hora depois, foi visto a entrar no depósito em New Hampshire, onde foi encontrado morto. Quando o corpo foi descoberto, a polícia encontrou uma mochila com duas armas de fogo e provas no carro que correspondem à cena do crime.
Acredita-se que Neves Valente, residente permanente no país desde 2017, tenha agido sozinho. Segundo as autoridades, não tinha antecedentes criminais conhecidos nos EUA.

O suspeito frequentou o mesmo programa académico de Nuno Loureiro numa universidade em Lisboa entre 1995 e 2000, mas ainda não se conhece a motivação de Cláudio Neves Valente para atacar a Universidade de Brown e o professor do MIT.
"Não acho que tenhamos ideia do porquê agora. Porquê Brown? Porquê esses alunos? Porquê essa sala de aula? Isso é realmente um mistério para nós e talvez fique claro com o tempo", disse Neronha.
Segundo a reitora da Universidade Brown, Cláudio Neves Valente esteve matriculado no programa de mestrado e doutoramento em física entre setembro de 2000 a abril de 2001, quando tirou uma licença antes de se afastar formalmente em julho de 2003. De acordo com a CNN, durante o período em que esteve na universidade, estava matriculado apenas em aulas de física, e a maioria dessas aulas terá sido ministrada no prédio de engenharia e física Barus & Holley, onde ocorreu o tiroteio, explicou Christina Hull Paxson.
Não ficou claro se John vai receber a recompensa de 50 mil dólares (42,7 mil euros) que o FBI ofereceu por informações sobre o tiroteio de Brown.
Já ocorreram mais de 300 tiroteios em massa nos Estados Unidos este ano, de acordo com o Gun Violence Archive, que define um tiroteio em massa como aquele em que quatro ou mais pessoas são baleadas. As tentativas de restringir o acesso a armas de fogo ainda enfrentam um impasse político.

