
Manifestantes reúnem-se durante um protesto organizado pelo coletivo autodenominadoGen Z 212, em Rabat, Marrocos, este domingo. O grupo protestou pelo nono dia consecutivo para exigir reformas na saúde e na educação públicas e expressar solidariedade com os palestinianos.
Foto: EPA/JALAL MORCHIDI
O grupo Gen Z 212 tem usado a plataforma Discord para organizar manifestações em várias cidades de Marrocos. Os jovens exigem melhorias na saúde e educação e apelam ao combate à corrupção.
A plataforma de chat Discord, normalmente associada a comunidades de videojogos, tornou-se um instrumento central nos protestos juvenis que têm agitado várias cidades marroquinas nas últimas semanas. O movimento, liderado pelo grupo recém-criado Gen Z 212, exige melhorias na saúde pública e na educação, bem como o combate à corrupção.
Foto: Jalal Morchidi/EPA
A morte de oito mulheres grávidas num hospital de Agadir, atribuída por ativistas a negligência médica e falta de equipamento básico, foi o gatilho para os protestos. Desde então, milhares de jovens têm aderido ao movimento, coordenando-se através do Discord para decidir pontos de encontro, trocar mensagens de voz e texto e planear ações de forma organizada e rápida.
O especialista em cibersegurança marroquino Taib Hezzaz afirma que o Discord oferece vantagens técnicas que o tornam ideal para este tipo de mobilização: "Permite criar contas sem nome real ou número de telefone, fazer reuniões em tempo real e manter conversas em grupos fechados, o que dificulta a vigilância".
O grupo organiza ainda sessões de debate e reuniões de avaliação após cada protesto, refletindo um elevado nível de organização e flexibilidade. Apesar das tensões, os organizadores sublinham o caráter pacífico das manifestações e apelam aos participantes para respeitarem a não-violência, mantendo decoro e tacto, ao mesmo tempo que afirmam o apoio à monarquia como "garante da estabilidade".
O uso do Discord como ferramenta de coordenação tem levantado preocupações em Marrocos. O Observatório de Conteúdos Digitais, associação de especialistas marroquinos, alerta que a plataforma já não é apenas um espaço para gamers, mas também um meio para "incitamento e manipulação de protestos". Segundo o observatório, a tecnologia permite influenciar jovens com conteúdos dirigidos e isolá-los de opiniões opostas.
De acordo com um estudo recente, cerca de 43% dos jovens marroquinos entre os 18 e 29 anos passam entre três e cinco horas por dia em redes sociais, considerando-as espaços de expressão, criatividade e construção de relações.
O movimento Gen Z 212 surge num contexto de profundas desigualdades sociais e económicas no país, incluindo elevado desemprego juvenil e feminino e disparidades significativas na educação e nos cuidados de saúde entre setores público e privado.

