O "número dois" do Podemos negou que a constituição do seu partido tenha sido financiada pelo regime venezuelano através de uma fundação.
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O jornal espanhol "ABC" noticiou esta terça-feira, mostrando documentos, que o Governo venezuelano de Hugo Chávez pagou mais de sete milhões de euros à fundação que daria origem ao Podemos, o Centro de Estudos Políticos e Sociais (CEPS), com o objetivo de "propiciar mudanças políticas em Espanha mais alinhadas com o regime bolivariano".
As verbas em causa - pagas entre 2003 e 2011 - constam de um documento assinado pelo ministro das Finanças venezuelano da altura, Rafael Isea, e pelo próprio Hugo Chávez.
No parágrafo 63 do relatório, o ministro Isea explicita que os dinheiros pagos à fundação - o berço do Podemos e à qual pertenceu toda a cúpula do partido - visam pagar não só as assessorias políticas feitas na Venezuela, como também tem um objetivo maior.
"Adicionalmente, segundo o acordado no conselho de ministros, o apoio económico que significará para a Fundação CEPS esta contratação permitirá estreitar laços e compromissos com reconhecidos representantes das escolas de pensamento de esquerda, fundamentalmente anticapitalistas, que em Espanha podem criar consensos de forças políticas e movimentos sociais, propiciando nesse país mudanças políticas ainda mais alinhadas com o Governo bolivariano", indica o relatório.
O documento especifica que a fundação CEPS - cujas assessorias serviram, segundo o ministro venezuelano, para "promover os conceitos de emancipação popular, consciência anticapitalista e controlo social" - recebeu 2.687.390 euros entre 2003 e 2007. O relatório - datado de 28 de maio de 2008 - também serve para pedir verbas adicionais a Chávez para a CEPS: 1.650.700 euros para o exercício de 2008 e outros 2.830.000 euros para o período 2009-2011.
Questionado sobre se está em condições de afirmar que essas verbas pagas ao CEPS não chegaram ao Podemos em Espanha, o "número dois" do partido, Íñigo Errejón, explicou que quem disser o contrário terá que apresentar provas disso junto do Supremo Tribunal.
Errejón salientou que o Supremo dirá o mesmo que já disse em ocasiões anteriores: nada há de ilegal no financiamento do Podemos. Em janeiro e maio de 2015 o tribunal arquivou queixas apresentadas contra o Podemos por financiamento ilegal. Em fevereiro último, a procuradoria do Supremo nem sequer aceitou outra, dessa vez por causa de alegado financiamento do regime iraniano.
"É radicalmente falso", realçou o "número dois" de Pablo Iglesias e líder parlamentar do partido no Congresso dos Deputados.
O documento revelado pelo "ABC" está já na posse da Unidade de Delinquência Económica e Fiscal (UDEF) da Polícia Nacional espanhola, que já estava anteriormente a investigar o alegado financiamento ilegal do Podemos. Pela lei espanhola, é ilegal um partido político ser financiado por um regime externo.