O polémico caso de Julia Wandelt atraiu a atenção global em 2023, quando a polaca alegou, nas redes sociais, que poderia ser Madeleine McCann, a menina britânica desaparecida no Algarve em maio de 2007. Agora, a história tem um novo capítulo.
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Em 2023, Julia, uma jovem polaca de 22 anos, publicou pela primeira vez na sua conta do Instagram, uma mensagem a dizer que poderia ser Madeleine McCann, a criança britânica de três anos que desapareceu em 2007 no Algarve, onde passava férias com os pais, os irmãos mais novos e outros amigos de família. O mistério do seu desaparecimento, um dos mais famosos a nível mundial, nunca foi resolvido e a publicação de Julia espalhou-se na Internet.
Isolada na escola e abusada sexualmente quando era criança, Julia começou a fazer terapia aos 20 anos e percebeu que lhe faltavam memórias de infância. A polaca começou a questionar-se se poderia ter sido adotada. Mais tarde, começou a questionar-se se teria sido raptada e, recorrendo à internet, deparou-se com o caso de Maddie.
Julia apercebeu-se que tinha algumas semelhanças físicas com Maddie, uma vez que ambas têm coloboma na íris, uma anomalia ocular rara que afeta um em cada 10 mil bebés. Além disso, ao ver os esboços referentes a potenciais suspeitos no caso da criança britânica, Julia pensou ter reconhecido um dos homens.
Depois de contactar as autoridades e de não ter sido levada a sério, Julia fez um teste de ADN, que mostrou que era polaca, com alguma ascendência lituana e romena e, por isso, não poderia ser Maddie. Em janeiro do ano passado, a jovem pediu desculpa à família McCann pela situação.
Parecia ser o fim de um capítulo como tantos outros, já que Julia não foi a única a alegar, desde 2007, poder ser a criança britânica. Porém, de acordo com o jornal espanhol "La Vanguardia", cerca de um ano depois do pedido de desculpas, Julia, agora com 23 anos, voltou ao Instagram, onde publicou os resultados de um teste de ADN que poderiam mudar o rumo da sua história.
"Como os meus pais na Polónia e a Kate e o Gerry McCann se recusaram a fazer um teste de ADN, os meus resultados foram enviados para um especialista mundial que os comparou com o ADN encontrado no local do crime de McCann em Portugal", nomeadamente amostras de ADN de "cabelo obtido do chão da cena do crime em Portugal" e "saliva obtida da colcha da cama", escreveu. Segundo as imagens publicadas nas redes sociais, a análise de ADN, realizada sem que se conheça supervisão imparcial e a participação dos pais de Madeleine, revelou uma correspondência genética de 69,23% com Gerry McCann, o pai de Maddie.
O especialista não identificado terá descoberto dados que são "consistentes com uma relação pai-filho" e "sugerem uma ligação biológica entre os dois indivíduos". "O perfil de Julia Wendelt pode ser totalmente explicado como sendo herdado do perfil do pai. A evidência genética é forte de que Gerry McCann pode ser o pai biológico de Julia Wandelt, uma vez que os dados se alinham perfeitamente com uma relação pai-filho", lê-se.
Monte Miller, doutorado em bioquímica pela Universidade de Loma Linda, na Califórnia, analisou e interpretou parte dos resultados. "A resposta simples é que o suspeito [Julia] não é a fonte do ADN na prova porque o seu ADN não está totalmente estabelecido em todo o lado. No entanto, combinam muito bem, mais do que eu esperaria aleatoriamente. E emerge um padrão específico que parece uma ligação familiar quase certa. Procuraria um pai, filho ou irmão", lê-se na correspondência por e-mail entre Miller e Julia.
Nas publicações, Julia alega que o especialista disse que o ADN correspondia a algumas das principais características da criança, incluindo os olhos, os dentes e a voz.
Nas publicações, Julia informa ainda que, para mais informações, deve ser contactado Surjit Singh Clair, um dos mais conhecidos publicistas da Grã-Bretanha.
"Pedimos-lhe que parasse", disse família em 2023
Julia já tinha feito grandes esforços para provar que era a criança desaparecida, incluindo o envio de amostras para três exames forenses diferentes de forma a delinear o seu ADN e um teste genético para estabelecer a sua ascendência.
Nas redes sociais, tentou também apontar as semelhanças físicas entre ela e Madeleine. Além disso, publicou comparações entre os retratos robô de suspeitos no caso Maddie com fotografias da mãe biológica e do avô.
A jovem chegou mesmo a ir ao programa “Dr. Phil”, onde negou a alegação dos pais biológicos de que roubou a sua própria certidão de nascimento e fotografias de infância para esconder a sua verdadeira identidade.
Em 2023, a família da jovem polaca disse que pediu à filha para parar com as "mentiras e manipulação". "É óbvio que a Julia é nossa filha, neta, irmã, sobrinha, prima e enteada. Temos memórias, temos fotografias. Tentamos sempre perceber todas as situações que aconteceram com a Julia", afirmou a família, em comunicado. “Ameaças à nossa morada por parte da Julia, as suas mentiras e manipulações, atividade na internet. Vimos tudo isso e tentámos impedir, explicar, pedimos-lhe que parasse.”
Desaparecida há quase 18 anos
Maddie McCann desapareceu no dia 3 de maio de 2007, quando estava de férias com a família na Praia da Luz, no concelho de Lagos, no Algarve. Os pais, Gerry e Kate, deixaram os três filhos – Maddie e os irmãos gémeos mais novos Sean e Amelie – a dormir no apartamento turístico enquanto jantavam num bar de tapas a 120 metros de distância. Quando Kate foi ver as crianças, por volta das 22 horas, descobriu que Madeleine tinha desaparecido.
A primeira linha de investigação da Polícia Judiciária (PJ) apontou para a hipótese de a menina ter sido raptada enquanto dormia. Quando os cães da Polícia inglesa detetaram sangue na casa e na mala do carro que Kate e Gerry McCann alugaram poucos dias após o desaparecimento da filha, os pais foram incluídos na lista de suspeitos. A PJ tentou apurar se os pais de Maddie esconderam o corpo da menina após a sua morte, possivelmente em resultado de um acidente. No entanto, a investigação foi concluída sem que se tivesse chegado a qualquer conclusão.
Neste momento, o principal suspeito do desaparecimento de Maddie é Christian Brückner, que foi julgado na Alemanha, acusado de crimes sexuais não relacionados, alegadamente cometidos em Portugal entre 2000 e 2017. O alemão de 47 anos passou muitos anos em Portugal, incluindo na Praia da Luz na altura do desaparecimento de Madeleine. Um antigo companheiro de cela de Brückner, afirmou, em tribunal, que o suspeito confessou ter retirado uma criança de um apartamento no Algarve e admitiu ter levado várias raparigas para a carrinha que usava como casa no período em que permaneceu em Portugal.
Também em tribunal, o detetive Titus Stampa disse que foram encontrados e-mails numa conta do Hotmail usada por Brückner que o ligava diretamente ao caso. O detetive disse não poder dar mais detalhes por estarem relacionadas com o "assassinato" da criança, acrescentando apenas que a polícia encontrou uma segunda conta onde Brückner partilhava conteúdos de abuso infantil.
Porém, o alemão foi absolvido das cinco acusações: três violações e dois casos de abuso sexual de crianças.
O suspeito nega todas as acusações contra ele.
Atualmente, Brückner está preso até setembro de 2025 a cumprir uma pena de sete anos de prisão na Alemanha pela violação de uma mulher idosa em 2005.