"Sabia que não era ela". Kate McCann testemunha contra polaca que dizia ser Maddie
Kate McCann, mãe de Madeleine, a menina britânica que desapareceu em 2007 no Algarve, disse, esta quarta-feira, em tribunal, que soube que a polaca que alegava ser sua filha era uma impostora ao ver as fotografias. Julia Wandelt está a ser julgada por perseguição ao casal McCann.
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Julia Wandelt, de 24 anos, foi a tribunal esta segunda-feira, onde desabou em lágrimas depois de o procurador Michael Duck dizer que ela não é a menina desaparecida. A polaca foi detida em fevereiro, após assediar persistentemente e durante mais de dois anos e meio os pais de Maddie, a menina cujo paradeiro continua a ser um mistério desde o seu desaparecimento em maio de 2007.
Ao comparecer no julgamento, Kate McCann explicou que a ré a adicionou repetidamente a um grupo do WhatsApp, onde afirmava ser a sua filha desaparecida. "Sempre achei que o comportamento dela indicava que tinha problemas mentais", disse a mulher.
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Questionada se estava disposta a fazer um teste de ADN, como Wandelt queria, McCann disse que quase aceitou só para a descartar. "Para ser sincera, só por causa da persistência do comportamento de Julia, que começou a afetar-me", disse num depoimento no Tribunal da Coroa de Leicester, no centro de Inglaterra, atrás de um biombo. "Quase quis fazer um teste de ADN para acabar com o caso. Pelas fotos, sabia que não era ela", disse.
Memórias de infância e chamadas constantes
Julia Wandelt afirma lembrar-se de estar em casa, participar em eventos familiares e brincar com os irmãos gémeos de Maddie. Além disso, diz recordar-se de ter sido sequestrada do apartamento em Portugal. De acordo com o jornal espanhol "El País", Duck lembrou que, em 2007, a acusada deslocou-se a uma esquadra em Leicester e queixou-se de ter sido raptada e "abusada por um homem" que a injetou com algo que a deixou "paralisada". "Poderíamos ficar tentados a pensar que isto tem alguma credibilidade. Mas, nesta fase inicial do julgamento, devemos deixar claro que Julia Wandelt não é Madeleine McCann", referiu.
Em tribunal, foi reproduzido um vídeo em que Wandelt aparecia com a amiga e cúmplice Karen Spragg, de 61 anos, que também é acusada de perseguir os McCann, junto à casa de família dos McCann, a gritar e a bater à porta, enquanto Kate pedia para irem embora.
"Ela chamou-me mãe, acho eu, pediu um teste de ADN. 'Porque é que não fazes um teste de ADN?' e implorou", contou Kate. "De qualquer forma, apanhei um susto, quando percebi quem era, fiquei bastante angustiada. Depois seguiram-me. Lembro-me de tentar fechar a porta e de a Julia tentar estender as mãos para me impedir de a fechar", acrescentou.
No dia seguinte, as mulheres regressaram ao local e deixaram uma carta para a "mãe" assinada por "Madeleine X" que dizia: "No fundo do teu coração sabes e acreditas que sou tua filha".
O procurador relatou também alguns dos planos extravagantes das arguidas, como vasculhar o lixo da família ou roubar garfos de restaurantes onde haviam comido, na esperança de obter uma amostra de ADN.
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Wandelt terá bombardeado os McCann com e-mails e telefonemas entre junho de 2022 e fevereiro de 2025. A ré fazia chamadas constantes para os McCann, chegando a contactá-los 70 vezes num só dia. Numa das mensagens divulgadas, escreveu "Sei que tenho sotaque polaco e que não sou tão bonita como a Madeleine. Mas tenho consciência do que sei e do que me lembro. Deem-me uma oportunidade. Não sou louca. Liguem-me". Além disso, Julia usou o ChatGPT para criar fotografias falsas que enviou para a irmã mais nova de Maddie.
O caso ganhou um grande destaque quando, em 2023, Wandelt assegurou, na sua conta de Instagram, ser a menina desaparecida. A polícia já realizou um teste de ADN que descartou qualquer ligação entre a jovem e a família McCann. A jovem já se teria feito passar por outras duas crianças desaparecidas.
O casal McCann têm estado sob os holofotes internacionais desde que Madeleine, então com três anos, desapareceu a 3 de maio de 2007, do apartamento no resort à beira-mar da Praia da Luz, onde a família estava de férias. O caso não resolvido do desaparecimento de Madeleine voltou a estar na ribalta no mês passado, depois de o principal suspeito ter sido libertado de uma prisão alemã. Christian Brueckner, que tinha cumprido uma pena de sete anos de prisão por violação, não foi acusado no caso por falta de provas, embora, em 2020, os procuradores alemães o tenham nomeado como principal suspeito.