Ela era uma iraquiana doente numa multidão de refugiados que tentava entrar na Sérvia enquanto ele pertencia à severa polícia macedónia e, apesar do cenário nada propício ao romance, nasceu entre os dois uma feliz história de amor.
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Noora Arkavazi, uma curda muçulmana, e Bobi Dodevski, um cristão ortodoxo, apaixonaram-se pouco depois de se terem conhecido na fronteira no início de março e quatro meses depois casaram, segundo contaram à agência de notícias AFP.
Não imaginava que teria uma grande surpresa guardada aqui para mim
Bobi, de 35 anos, recorda-se do dia chuvoso em que viu Noora pela primeira vez em "terras de ninguém" entre os dois países dos Balcãs, em que estava a trabalhar, por acaso, depois de uma troca de turnos com um colega.
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Noora, de 20 anos, oriunda de Diyala, uma província no leste do Iraque, abandonou a sua casa no início do ano, com o irmão, irmã e pais rumo a oeste. Cruzaram a fronteira com a Turquia e embarcaram rumo à ilha grega de Lesbos até finalmente chegarem à Macedónia, numa rota percorrida por centenas de milhares de outras pessoas na tentativa de escaparem à guerra ou à pobreza.
Enquanto a família continuou a odisseia, Noora ficou na Macedónia depois de se apaixonar. "Eu tinha o simples sonho de viver com a minha família na Alemanha", afirmou. "Não imaginava que teria uma grande surpresa guardada aqui para mim", acrescentou.
Quando conheceu Bobi, Noora tinha febres altas e estava desesperada por saber se a família podia atravessar a fronteira para a Sérvia. Os países dos Balcãs tinham começado a fechar as fronteiras aos migrantes.
Outros agentes encaminharam-na diretamente para Bobi, porque ele falava bem inglês, e ele garantiu assistência médica e cobertores para Noora e para a sua mãe. "Ele disse: 'Não te preocupes, tudo vai correr bem na tua vida'", recorda Noora.
Nos dias que se seguiram, enquanto os migrantes esperavam no campo de Tabanovce, Bobi e Noora passaram mais tempo juntos - ele levava-a e à sua mãe aos mercados locais para comprarem comida e roupa.
Noora, que fala seis línguas e começou a ajudar a Cruz Vermelha local, gostou da forma como o polícia brincava com as crianças migrantes, ao contrário de alguns dos seus colegas, que tinham uma postura mais séria.
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As autoridades da Macedónia foram criticadas pela forma como trataram os migrantes, particularmente por terem lançado gás lacrimogéneo contra alguns dos que tentaram cruzar a fronteira a partir da Grécia.
Num final de tarde de abril, Bobi pediu Noora em casamento. "Eu disse-lhe: 'não, estás a brincar...' mas ele repetiu: 'Queres casar comigo?' talvez umas dez vezes", recorda a jovem.
Noora acabou por dizer sim, mas estava preocupada com a reação dos pais, por querer casar com um homem não muçulmano. Ficaram "nervosos e zangados" com a notícia e hoje Noora mostra-se relutante em falar sobre a sua família, dizendo apenas estar aliviada por saber que vive em segurança na Alemanha.
Noora e Bobi casaram em Kumanovo a 13 de julho, numa cerimónia que contou com 120 convidados de "todas as religiões".
Kumanovo é uma das cidades da Macedónia com maior mistura de etnias. O casal agora vive com as três crianças de Bobi, fruto de casamentos anteriores, e Noora está à espera do primeiro filho.
O número de migrantes no campo de Tabanovce caiu desde que a chamada rota dos Balcãs foi efetivamente encerrada, apesar de muitos ainda cruzarem a região com a ajuda de traficantes.