Depois de ter afundado, a popularidade do primeiro-ministro britânico recupera. Se houvesse eleições hoje, continuaria a ocupar Downing Street, numa altura em que metade da população adulta já está vacinada.
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As empresas de sondagens mostram Boris a viver dias de sol mesmo com uma pandemia às costas. Três estudos diferentes colocam neste mês o primeiro-ministro britânico com o melhor índice de popularidade desde maio, ultrapassando, em dois deles, o do líder trabalhista Keir Starmer pela primeira vez desde então. A mais recente sondagem, conduzida pela Savanta ComRes, desenha uma subida constante no índice de aprovação entre janeiro e março e, embora mostre mais eleitores contra as políticas de Boris (30%) do que a favor (29%), os primeiros caíram seis pontos percentuais, ao passo que os segundos aumentaram dois. Cenário semelhante apresentam a sondagem da YouGov, com Boris a crescer desde outubro, e a da Opinium, que coloca o conservador na liderança da resposta à pergunta "quem seria o melhor primeiro-ministro?", ao vencer o rival por 37% contra 25% (as eleições locais de 6 de maio vão ser um teste à força dos conservadores).
A julgar pela recuperação da confiança dos britânicos, já vão longe os erros que o Governo britânico cometeu. Depois da tentativa de imunizar a população à força, do colapso das unidades de cuidados intensivos, da tragédia mortal nos lares, dos milhares de camionistas retidos na fronteira e do incumprimento com rapidez e eficácia da estratégia de testes e rastreamento de infetados, o Executivo de Boris mais do que sobrevive à tona. E o segredo pode estar numa injeção, neste caso em milhões: o programa de vacinação do Governo avança rapidamente, prevendo-se que todos os adultos possam estar vacinados com uma primeira dose bem antes da meta oficial do final de julho (metade já está). Os recordes diários no número de inoculações acumulam-se: depois de, só na sexta-feira, o país ter administrado mais de 711 mil doses, o número ascendeu a 873 no balanço relativo a sábado.
Somando primeiras e segundas doses, já foram administradas cerca de 30 milhões de vacinas no Reino Unido.
Vacinas ajudaram a melhorar desempenho
Em alguns momentos do ano passado e no início deste ano, não foi só o penteado loiro e o internamento por covid-19 que serviram para comparar Boris a Trump na imprensa internacional. O inglês também chegou a ser acusado de desvalorizar o vírus, pecando pela implementação tardia de medidas - quem não se recorda dos bares cheios de pessoas sem proteção nem distanciamento? - e pela inicial relutância em recomendar o uso de máscaras, quando já vários países, incluindo Portugal, o tinham tornado obrigatório.
Para que Boris ficasse melhor na fotografia, ajudou o facto de haver uma vacina "made in" Reino Unido, que podia ter sido produzida e comercializada pela norte-americana Merck (chegou a ser sondada pela Universidade de Oxford) mas que acabou por passar para a AstraZeneca, parcialmente inglesa, com experiência limitada no fabrico de vacinas. Além do orgulho nacional gerado pela vacina, a mais contestada por causa do incumprimento dos contratos com a União Europeia e das dúvidas que levantou sobre segurança e eficácia, houve empenho em contornar a burocracia e acelerar a campanha - ainda mais importante num contexto de pós-Brexit, com vários países da União Europeia em pior situação. Além de ter sido o primeiro país a aprovar a vacina da Pfizer e começar a distribuí-la, em maio passado o Reino Unido já tinha investido em 100 milhões de doses da AstraZeneca.